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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

TRABALHO, ALIENAÇÃO E ESTRANHAMENTO

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
Os aspectos mais cruéis que percebemos quando nos propomos a discutir a categoria trabalho, são aqueles que se referem ao estranhamento e alienação. Estas duas condições, intrínsecas ao trabalho neste modelo econômico capitalista, são preponderantes para que o capital exerça, de forma cada vez mais aprofundada, suas diversas facetas de dominação sobre todos os que vivem do trabalho.
Repare que a estratégia do capital para penetrar no íntimo do trabalhador, para fazer com que ele assimile e interiorize a necessidade (não dele), mas do capital em defender suas formas de reprodução e expansão, são altamente dissimuladas e ideologizadas. Dessa maneira, o capital se apropria não somente da força de trabalho, mas também das mentes dos trabalhadores. Vale lembrar que no Japão, em diversas empresas, a jornada diária de trabalho começa com a execução dos hinos das empresas, que o trabalhador canta com o espírito que lembra o “patriotismo nazista” tão utilizado por Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial.
O estranhamento manipulado pelo formulário da “qualidade total” ainda se tornou mais eficiente, no momento em que o capital introduziu o mecanismo denominado de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) em sua cadeia de produção. Este mecanismo, por meio do qual o capital “concede” ao trabalhador uma irrisória gratificação (geralmente no final do ano e nas épocas das festividades que marcam as viradas de ano) em dinheiro. O mais cruel e dissimulado no denominado PLR não é a irrisória gratificação (infinitamente desprezível diante dos gigantescos lucros das empresas ou dos grupos econômicos), mas, sobretudo, a lógica nefasta que é incutida nas mentes de operários e operárias: esta estratégia imprime de maneira não cicatrizante, a ideia de posse, de que ele é também é um dos proprietários da fábrica e que esta gratificação é o resultado efetivo do trabalho coletivo, em equipe, e vai mais longe ainda, ao deixar a ideia de que no próximo ano os resultados serão muito melhores, se cada um deles redobrar seus esforços e eficiência. O capital imprime na cabeça do trabalhador a ideia de que ele é um dos donos dos meios de produção, algo que ele jamais será independentemente dos esforços e sacrifícios que realizar.
Nestas condições, em que as formas de estranhamento e alienação se intensificam nas formas de dominação do capital sobre o trabalho e, no caso específico do toyotismo, a estratégia do capital em incutir na mente do trabalhador a ideia de posse dos meios de produção, faz com que ele assimile um falso objetivo central (a eficiência em seu processo laborativo), ou seja, o capital consegue iludi-lo com “um falso projeto de vida”, “uma ideia falsa de autonomia”, “um castelo de areia”, o qual se desmorona, quando ele percebe que foi apenas uma peça insignificante, dentro da cadeia produtiva capitalista, que aparece nitidamente em sua frente, agora sob a forma do que é “real” em toda a extensão do termo, quando ele perde seu emprego. Cai, assim, por terra toda a ilusão na falsa autonomia.

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