Total de visualizações de página

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O SIGNIFICADO DO DIA 13 DE MAIO

Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca e Profa. Carmen Lucia Ferreira Silva (2017)



Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
Para ensaiarmos algumas considerações a respeito do dia 13 de maio e seu significado para as raízes da cultura africana é importante lançarmos o olhar sobre a construção do significado da tão proclamada “abolição da escravatura” pelos historiadores oficiais do Estado brasileiro. O significado desta data tem sido amplamente debatido em diversas frentes dos vários movimentos que se reivindicam da cultural popular de raízes africanas no Brasil, em especial o Movimento Negro Unificado (MNU).
Ao contrário do que divulga a nossa história, a “Lei Áurea” foi a única solução encontrada para a saída honrosa dos “Barões do Café”, da oligarquia rural oriunda dos “Senhores de Engenhos” e dos latifundiários, da enrascada política em que se meteram perante o movimento abolicionista mundial e até mesmo dentro do país. Então, a Monarquia portuguesa, em crise, “libertou”, por intermédio da promulgação da “Lei Áurea”, não os afrodescendentes, mas sim os representantes da oligarquia rural e dos “Barões do Café” no Brasil.
Mas e os negros? O que ganharam com isso? Nada! Absolutamente nada! Aliás, a escravidão já dava seus últimos suspiros no Brasil; a abolição se consolidaria pela própria força da resistência negra e do movimento abolicionista. Isto significaria a derrota da monarquia e a vitória da resistência negra. Então, para eles [os negros] o que restou foi o abandono à própria sorte. Foram despejados nas cidades [ambiente ao qual não estavam adaptados], sem recursos e sem quaisquer condições de sobrevivência, somando-se assim ao exército de desempregados das metrópoles. Surgiam em nosso país os primeiros núcleos de favelas, aprofundando em seu nascedouro a desigualdade social no país. Aí é importante ressaltar a indagação: Por que pagar salários aos italianos, e não aos nossos irmãos africanos?
A historiografia oficial do Brasil é repleta de distorções e falsificações, pois ela foi narrada e escrita segundo os interesses das oligarquias rurais, dos agentes da Coroa Portuguesa e das famílias abastadas estrangeiras que tinham projetos políticos e econômicos para o país. Assim, o dia 13 de maio constitui-se em mais uma peça montada pelos agentes do Império Português em consonância com os “Barões do Café”, no sentido de justificar a abolição da escravatura sem a desmoralização da Coroa e dos “Senhores de Engenho” à beira da ruína.
Existem diversas correntes ligadas aos movimentos que se reivindicam dos estudos acerca da cultura afro no Brasil e que participam da organização e preparação das comemorações relativas ao dia 13 de maio. Em que pesem as questões ligadas à disputa pelo controle político das manifestações culturais de raízes africanas no país, essas comemorações continuam sendo importantes, principalmente pelo acervo riquíssimo de simbologias, representações, rituais, danças, instrumentos e musicalidade que nos fazem refletir sobre as raízes africanas no Brasil e no sofrimento dessas etnias que muito contribuíram para a construção deste país.
Para concluir esta reflexão, lanço mão de um recorte textual de Claude Levi Strauss (2009): “Quando o arco-íris das culturas humanas tiver terminado de se abismar no vazio aberto por nossa fúria; enquanto estivermos aqui e existir um mundo, esse arco tênue que nos liga ao inacessível permanecerá, mostrando o caminho contrário ao de nossa escravidão, e cuja contemplação proporciona ao homem, ainda que este não o percorra, o único favor que ele possa merecer: suspender a marcha, conter o impulso que o obriga a tapar, uma após outra, as rachaduras abertas no muro da necessidade a concluir a sua obra ao mesmo tempo em que fecha sua prisão”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário