Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca e Profa. Carmen Lucia Ferreira Silva (2017) |
Prof. Dr. Valter Machado Fonseca
Para ensaiarmos algumas considerações a
respeito do dia 13 de maio e seu significado para as raízes da cultura africana
é importante lançarmos o olhar sobre a construção do significado da tão
proclamada “abolição da escravatura” pelos historiadores oficiais do Estado
brasileiro. O significado desta data tem sido amplamente debatido em diversas
frentes dos vários movimentos que se reivindicam da cultural popular de raízes
africanas no Brasil, em especial o Movimento Negro Unificado (MNU).
Ao contrário do que divulga a
nossa história, a “Lei Áurea” foi a única solução encontrada para a saída
honrosa dos “Barões do Café”, da oligarquia rural oriunda dos “Senhores de
Engenhos” e dos latifundiários, da enrascada política em que se meteram perante
o movimento abolicionista mundial e até mesmo dentro do país. Então, a
Monarquia portuguesa, em crise, “libertou”, por intermédio da promulgação da
“Lei Áurea”, não os afrodescendentes, mas sim os representantes da oligarquia
rural e dos “Barões do Café” no Brasil.
Mas e os negros? O que ganharam
com isso? Nada! Absolutamente nada! Aliás, a escravidão já dava seus últimos
suspiros no Brasil; a abolição se consolidaria pela própria força da
resistência negra e do movimento abolicionista. Isto significaria a derrota da
monarquia e a vitória da resistência negra. Então, para eles [os negros] o que
restou foi o abandono à própria sorte. Foram despejados nas cidades [ambiente
ao qual não estavam adaptados], sem recursos e sem quaisquer condições de
sobrevivência, somando-se assim ao exército de desempregados das metrópoles.
Surgiam em nosso país os primeiros núcleos de favelas, aprofundando em seu
nascedouro a desigualdade social no país. Aí é importante ressaltar a indagação:
Por que pagar salários aos italianos, e não aos nossos irmãos africanos?
A historiografia oficial do Brasil é repleta de
distorções e falsificações, pois ela foi narrada e escrita segundo os
interesses das oligarquias rurais, dos agentes da Coroa Portuguesa e das
famílias abastadas estrangeiras que tinham projetos políticos e econômicos para
o país. Assim, o dia 13 de maio constitui-se em mais uma peça montada pelos
agentes do Império Português em consonância com os “Barões do Café”, no sentido
de justificar a abolição da escravatura sem a desmoralização da Coroa e dos
“Senhores de Engenho” à beira da ruína.
Existem diversas correntes ligadas aos
movimentos que se reivindicam dos estudos acerca da cultura afro no Brasil e
que participam da organização e preparação das comemorações relativas ao dia 13
de maio. Em que pesem as questões ligadas à disputa pelo controle político das
manifestações culturais de raízes africanas no país, essas comemorações
continuam sendo importantes, principalmente pelo acervo riquíssimo de
simbologias, representações, rituais, danças, instrumentos e musicalidade que
nos fazem refletir sobre as raízes africanas no Brasil e no sofrimento dessas
etnias que muito contribuíram para a construção deste país.
Para concluir esta reflexão, lanço mão de um
recorte textual de Claude Levi Strauss (2009): “Quando o arco-íris das culturas
humanas tiver terminado de se abismar no vazio aberto por nossa fúria; enquanto
estivermos aqui e existir um mundo, esse arco tênue que nos liga ao inacessível
permanecerá, mostrando o caminho contrário ao de nossa escravidão, e cuja
contemplação proporciona ao homem, ainda que este não o percorra, o único favor
que ele possa merecer: suspender a marcha, conter o impulso que o obriga a
tapar, uma após outra, as rachaduras abertas no muro da necessidade a concluir
a sua obra ao mesmo tempo em que fecha sua prisão”.
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