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quarta-feira, 11 de maio de 2016

A cidade: lócus da disputa entre desiguais

Fonte: sempretops.com (2016)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
A simples observação da cidade, num breve passeio, leva a indagações sobre os diversos tipos de forma, estilos e significações nela existentes. Não é necessário ser um exímio observador para notar as diferentes formas e contrastes presentes na arquitetura das cidades. Nas grandes e médias, estes contrastes são mais gritantes, mas também nas pequenas podem-se observar estas evidências.
Nas regiões centrais, destacam-se um amontoado de edifícios, na sua maioria verticalizados, os quais parecem em constante disputa por um “pedaço de céu”. Largas e estreitas avenidas se entrecruzam, tecendo um emaranhado de linhas (retas e curvas) que chegam a formar uma rede à semelhança de um gigantesco quebra-cabeça, que não possui início nem fim. Ruas impermeabilizadas por asfalto, rede de energia elétrica, sinais de trânsito, calçadas estreitas e largas, mansões, jardins, praças, pontes e viadutos dão os retoques finais ao “caos organizado” que compõe a paisagem das cidades. Com pequeno esforço, conseguem-se observar, ainda, as diferenças entre os edifícios, monumentos e outras construções. Este emaranhado de cimento, concreto, ferro e vidro compõem as dezenas de séculos que marcam a intervenção da mão humana sobre o ambiente.
Quando se afasta das regiões centrais, notam-se as mudanças no cenário desta paisagem. Os edifícios minimizam a “disputa pelo céu”, as ruas e avenidas estreitam-se, tornam-se miúdas, afunilam-se ou, simplesmente desaparecem. A paisagem diminui sua magnitude, simplifica-se, despe-se de sua arrogância. O luxo e a ostentação são substituídos por formas toscas, simples, quase desnudas. O céu deixa-se observar em fragmentos maiores e à noite, vez em quando, consegue-se ver algumas estrelas por entre as nuvens de fumaça e pó. Mais adiante, surge o morro com seus casebres, como se fosse um amontoado dos restos da paisagem central, um amontoado de quinquilharias, e a paisagem quase humilhante. As avenidas são substituídas por vielas, um labirinto quase indecifrável, um espaço onde é possível perceber o contraste entre o “belo” e o “feio”, o poder e a dominação, a riqueza e a miséria. Aí aparece o contraste da essência entre a forma e o conteúdo. Pode-se definir o morro, a periferia como o resumo, o resultado da disputa entre desiguais.

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