Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Já faz algum tempo que venho
acompanhando a política educacional brasileira e tenho ficado bastante
intrigado com o grau de demagogia que entremeia os discursos educacionais em
nosso país. Entra governo, sai governo e os discursos acerca de uma educação de
qualidade, de mais verbas para a educação, de construção das condições
propícias para o ensino de qualidade, dentre inúmeras outra vertentes discursivas
sobre a educação ganham os palanques eleitorais. E, olhem que estou dizendo
isto fora do período eleitoral, para não dizerem que estou fazendo campanha
para “X” ou “Y”.
Quero me deter um pouco sobre a
política de expansão universitária que tem se traduzido na ação mais forte do
último período e colocada em prática pelos últimos governos. Não sei bem sobre
quais pilares se edificou a política de expansão universitária. Parece que
chegaram a um consenso de que toda a sociedade brasileira deve entrar para a
universidade. Este projeto não possui nenhum parâmetro claro e nenhuma base
sólida que lhe dê sustentação. O que vimos, de fato, foi um inchaço da
universidade pública, sem uma infraestrutura logística para seu funcionamento. Este
inchaço das universidades brasileiras foi justificado pelo acesso das camadas
menos privilegiadas ao ensino superior. Mas, por que a maioria da população tem
que estar na universidade?
Esta lógica “ilógica” tem
transformado a nossa universidade pública que já era ruim em algo amorfo, em um
conjunto de estruturas físicas vazias, sem condições de funcionamento: falta de
laboratórios, falta de carteiras para os alunos, falta de professores
competentes, Concurso fraudulentos, falta de sala para os professores, dentre
inúmeros outros fatores. E, enquanto se achata ainda mais a já precária
condição de ensino, cortam-se verbas para pesquisas, para projetos de extensão
e não se investe um centavo em equipamentos e laboratórios, salvo raras exceções.
A universidade pública brasileira tem se transformado em um grande colégio, uma
extensão do segundo grau. A “indústria do vestibular” virou a “indústria do
ENEM”. Isto sem dizer que os investimentos na Educação Básica são cada vez mais
irrisórios. Se não se investe na Bse, como falar em qualidade ensino em
quaisquer níveis?
Quero aqui deixar claro que a
universidade não deva se expandir, porém, seu papel histórico não é o
acolhimento de todos os setores carentes da sociedade. A função histórica
principal de todas as universidades sérias do mundo é criar condições propícias
para a formação de cientistas, cujo papel principal é pensar o país, a ciência
e o mundo. Onde estão os nossos cientistas? Onde estão os nossos maiores cérebros?
Estão realizando pesquisas fora do país nas grandes universidades e nos grandes
centros de investigação científica. Assim, no Brasil o “democratismo” barato
sucateou as nossas pesquisas em nome de “uma universidade que caiba toda a
sociedade”.
Se temos preocupação em preparar
nossos jovens para o mercado de trabalho, capacitá-los para o exercício
profissional, o caminho é aparelhar corretamente os Institutos Federais,
dar-lhes todas as condições de estruturas físicas, laboratoriais e de logística
educacional que lhes permitam a capacitação dos nossos jovens não somente para
o mundo do trabalho, mas, sobretudo, para a vida, ou seja, para a formação
integral do aluno.
Diante disso, é preciso pensar urgentemente
numa proposta que introduza a pesquisa séria na universidade e numa política
efetiva de capacitação profissional para os alunos que frequentam os Institutos
Tecnológicos. É preciso, urgentemente, repensar o papel das universidades e dos
Institutos Tecnológicos no Brasil. Enquanto as nossas universidades (públicas e
privadas) não investirem seriamente em pesquisa de qualidade, infelizmente
nosso país continuará a aparecer no final das listas de pesquisas de ponta nos
rankings internacionais. Esta é a nossa realidade. Pronto! Desabafei!
*
Escritor. Geógrafo, mestre
e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas
“Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.
Nenhum comentário:
Postar um comentário