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quarta-feira, 27 de maio de 2015

UNIVERSIDADE QUE NÃO INVESTE EM PESQUISA PARA NO TEMPO!




Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Já faz algum tempo que venho acompanhando a política educacional brasileira e tenho ficado bastante intrigado com o grau de demagogia que entremeia os discursos educacionais em nosso país. Entra governo, sai governo e os discursos acerca de uma educação de qualidade, de mais verbas para a educação, de construção das condições propícias para o ensino de qualidade, dentre inúmeras outra vertentes discursivas sobre a educação ganham os palanques eleitorais. E, olhem que estou dizendo isto fora do período eleitoral, para não dizerem que estou fazendo campanha para “X” ou “Y”.
Quero me deter um pouco sobre a política de expansão universitária que tem se traduzido na ação mais forte do último período e colocada em prática pelos últimos governos. Não sei bem sobre quais pilares se edificou a política de expansão universitária. Parece que chegaram a um consenso de que toda a sociedade brasileira deve entrar para a universidade. Este projeto não possui nenhum parâmetro claro e nenhuma base sólida que lhe dê sustentação. O que vimos, de fato, foi um inchaço da universidade pública, sem uma infraestrutura logística para seu funcionamento. Este inchaço das universidades brasileiras foi justificado pelo acesso das camadas menos privilegiadas ao ensino superior. Mas, por que a maioria da população tem que estar na universidade?
Esta lógica “ilógica” tem transformado a nossa universidade pública que já era ruim em algo amorfo, em um conjunto de estruturas físicas vazias, sem condições de funcionamento: falta de laboratórios, falta de carteiras para os alunos, falta de professores competentes, Concurso fraudulentos, falta de sala para os professores, dentre inúmeros outros fatores. E, enquanto se achata ainda mais a já precária condição de ensino, cortam-se verbas para pesquisas, para projetos de extensão e não se investe um centavo em equipamentos e laboratórios, salvo raras exceções. A universidade pública brasileira tem se transformado em um grande colégio, uma extensão do segundo grau. A “indústria do vestibular” virou a “indústria do ENEM”. Isto sem dizer que os investimentos na Educação Básica são cada vez mais irrisórios. Se não se investe na Bse, como falar em qualidade ensino em quaisquer níveis?
Quero aqui deixar claro que a universidade não deva se expandir, porém, seu papel histórico não é o acolhimento de todos os setores carentes da sociedade. A função histórica principal de todas as universidades sérias do mundo é criar condições propícias para a formação de cientistas, cujo papel principal é pensar o país, a ciência e o mundo. Onde estão os nossos cientistas? Onde estão os nossos maiores cérebros? Estão realizando pesquisas fora do país nas grandes universidades e nos grandes centros de investigação científica. Assim, no Brasil o “democratismo” barato sucateou as nossas pesquisas em nome de “uma universidade que caiba toda a sociedade”.
Se temos preocupação em preparar nossos jovens para o mercado de trabalho, capacitá-los para o exercício profissional, o caminho é aparelhar corretamente os Institutos Federais, dar-lhes todas as condições de estruturas físicas, laboratoriais e de logística educacional que lhes permitam a capacitação dos nossos jovens não somente para o mundo do trabalho, mas, sobretudo, para a vida, ou seja, para a formação integral do aluno.
Diante disso, é preciso pensar urgentemente numa proposta que introduza a pesquisa séria na universidade e numa política efetiva de capacitação profissional para os alunos que frequentam os Institutos Tecnológicos. É preciso, urgentemente, repensar o papel das universidades e dos Institutos Tecnológicos no Brasil. Enquanto as nossas universidades (públicas e privadas) não investirem seriamente em pesquisa de qualidade, infelizmente nosso país continuará a aparecer no final das listas de pesquisas de ponta nos rankings internacionais. Esta é a nossa realidade. Pronto! Desabafei!          


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.

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