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segunda-feira, 7 de abril de 2014

QUANDO A CHUVA PASSAR!

Foto: Rio Cantareira                                                                                                                                Fonte: Estadão (2014)
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Neste ano de 2013/2014 presenciamos a ausência de precipitações pluviométricas (chuvas) em regiões que possuem um volume de precipitações regulares e normais, a exemplo das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Prova disso pode-se ver o volume do rio Cantareira, responsável pelo abastecimento da maior megalópole da América do Sul e uma das maiores do mundo: a cidade de São Paulo.
É importante verificarmos que não se trata de um fato corriqueiro, pois, desde 2009 o volume de chuvas vem se tornado irregular nestas regiões. Outro fator altamente relevante é a forma com que vêm ocorrendo essas precipitações no Sul e Sudeste do país: já não se veem mais chuvas leves e brandas, daquelas que molham o solo durante uma semana (ou até 15 dias) ininterrupta, o que era corriqueiro há tempos atrás. Ao contrário, presenciamos grandes volumes de precipitações, em forma de tempestades, que caem em pequenos intervalos de tempo, provocando a lixiviação dos nutrientes do solo e provocando magníficas enchentes e inundações. Em grande parte delas verificamos mortes de dezenas de seres humanos e de milhares de desabrigados.
Em que pese o grande debate que toma conta dos círculos acadêmicos, dos centros de pesquisa, da mídia nacional e internacional acerca das “Alterações Climáticas” e sua origem, um fato se torna cada vez mais significativo: a ocupação desordenada do espaço urbano, o inchamento dos grandes centros urbanos e a exploração descontrolada dos recursos da natureza, em especial as grandes formações vegetais e os recursos hídricos.
Quando observamos o bioma Cerrado em nossa região, a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, nos deparamos com fiapos, nesgas e farrapos do Cerrado, a fuga de animais silvestres para os centros urbanos, em função da substituição da paisagem natural por milhares e milhares de hectares de monocultura, em especial a cana-de-açúcar. Com o plantio descontrolado dessas monoculturas, substituem-se milhares de hectares de mata nativa por uma espécie de cultura homogênea, o que extingue milhares de espécies de flora e fauna provocando um drástico desequilíbrio da biodiversidade e o aumento de pragas e doenças. O cultivo de monoculturas ainda promove o rebaixamento do lençol freático e a extinção de inúmeras fontes e nascentes d’água. Tudo isto tem um exorbitante impacto sobre os biomas e o regime de chuvas.
O ser humano está chegando ao máximo de sua racionalidade ao pensar que pode usufruir dos recursos hídricos a seu bel prazer, como se eles fossem ilimitados e infinitos. O resultado deste despreparo com o trato dos recursos naturais já começa a ser percebido com a diminuição drástica do volume de precipitações nas regiões de maiores índices de atividades humanas. O homem somente se aperceberá o resultado de sua ganância desmedida quando a natureza retirar dele seu líquido da vida: a água. Aí sim! Aí o resultado de tanto irracionalidade ficará bem nítido. Aí sim! Tudo será totalmente aterrador e desolador quando a chuva passar!


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador das temáticas “Alterações Climáticas” e “Impactos socioambientais sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. pesquisa.fonseca@gmail.com

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