Foto: Rio Cantareira Fonte: Estadão (2014) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Neste ano de 2013/2014
presenciamos a ausência de precipitações pluviométricas (chuvas) em regiões que
possuem um volume de precipitações regulares e normais, a exemplo das regiões
Sudeste e Sul do Brasil. Prova disso pode-se ver o volume do rio Cantareira,
responsável pelo abastecimento da maior megalópole da América do Sul e uma das
maiores do mundo: a cidade de São Paulo.
É importante verificarmos que não
se trata de um fato corriqueiro, pois, desde 2009 o volume de chuvas vem se
tornado irregular nestas regiões. Outro fator altamente relevante é a forma com
que vêm ocorrendo essas precipitações no Sul e Sudeste do país: já não se veem
mais chuvas leves e brandas, daquelas que molham o solo durante uma semana (ou
até 15 dias) ininterrupta, o que era corriqueiro há tempos atrás. Ao contrário,
presenciamos grandes volumes de precipitações, em forma de tempestades, que
caem em pequenos intervalos de tempo, provocando a lixiviação dos nutrientes do
solo e provocando magníficas enchentes e inundações. Em grande parte delas
verificamos mortes de dezenas de seres humanos e de milhares de desabrigados.
Em que pese o grande debate que
toma conta dos círculos acadêmicos, dos centros de pesquisa, da mídia nacional
e internacional acerca das “Alterações Climáticas” e sua origem, um fato se
torna cada vez mais significativo: a ocupação desordenada do espaço urbano, o
inchamento dos grandes centros urbanos e a exploração descontrolada dos
recursos da natureza, em especial as grandes formações vegetais e os recursos
hídricos.
Quando observamos o bioma Cerrado
em nossa região, a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, nos
deparamos com fiapos, nesgas e farrapos do Cerrado, a fuga de animais
silvestres para os centros urbanos, em função da substituição da paisagem
natural por milhares e milhares de hectares de monocultura, em especial a
cana-de-açúcar. Com o plantio descontrolado dessas monoculturas, substituem-se
milhares de hectares de mata nativa por uma espécie de cultura homogênea, o que
extingue milhares de espécies de flora e fauna provocando um drástico
desequilíbrio da biodiversidade e o aumento de pragas e doenças. O cultivo de
monoculturas ainda promove o rebaixamento do lençol freático e a extinção de
inúmeras fontes e nascentes d’água. Tudo isto tem um exorbitante impacto sobre
os biomas e o regime de chuvas.
O ser humano está chegando ao
máximo de sua racionalidade ao pensar que pode usufruir dos recursos hídricos a
seu bel prazer, como se eles fossem ilimitados e infinitos. O resultado deste
despreparo com o trato dos recursos naturais já começa a ser percebido com a
diminuição drástica do volume de precipitações nas regiões de maiores índices
de atividades humanas. O homem somente se aperceberá o resultado de sua
ganância desmedida quando a natureza retirar dele seu líquido da vida: a água.
Aí sim! Aí o resultado de tanto irracionalidade ficará bem nítido. Aí sim! Tudo
será totalmente aterrador e desolador quando a chuva passar!
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Professor e pesquisador das temáticas “Alterações Climáticas” e
“Impactos socioambientais sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. pesquisa.fonseca@gmail.com
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