Fonte: ruitavares.net (2014) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Várias
projeções, filmes, documentários de ficção, livros, dentre outros instrumentos
de simulação e divulgação, realizaram diversos prognósticos em tempos
pretéritos acerca de como estaria a ciência no século XXI. Qual seria seu
estágio de evolução! Vimos diferentes prognósticos que iam desde carros
flutuantes, cidades suspensas, homens “voadores”, dentre outros artifícios
incomuns que habitam com muita frequência a mente humana. Mas, como vemos a
ciência hoje? O que ela tem produzido de benefício para a humanidade? O que ela
trouxe para melhorar o homem em sua essência, em seu bem-estar e em sua
dignidade?
Na
verdade, nenhum dos prognósticos engendrados pela mente humana foi realizado.
Ao contrário, na grande maioria das vezes, ela tem reproduzido monstruosidades
criadas pelo homem, judiado do ecossistema planetário e criado um ser humano artificial
a serviço do mercado de capitais a da superprodução de bens de consumo. Isto para
não falar das aberrações que tem produzido desde o século XX como a bomba atômica,
o preconceito, a discriminação, o desemprego para largas parcelas da população,
a fome, a miséria e, até a ameaça de retorno de organizações nazifascistas em
diversas regiões do planeta.
O
genial Albert Einstein, um dos maiores cientistas e pensadores de todos os
tempos, acreditava no “homem de ciência” conforme seus próprios dizeres. Ele acreditava
numa ciência que tivesse como eixo central o bem-estar da humanidade, que
criasse um homem consciente de seu papel histórico, um homem liberto das
amarras da hipocrisia e dos falsos valores morais. Enfim, acreditava num
projeto de ciência que fosse capaz de edificar a essência de um ser humano
capaz de ressignificar e dignificar sua própria existência neste planeta e
neste universo.
Tristemente
e miseravelmente, o ser humano vem se tornado escravo de si mesmo, de sua
própria criação, das banalidades e dos produtos supérfluos que cria. O homem
criou um espelho disforme que reflete sua própria imagem como mercadoria para a
qual não existe necessidade. Este é o homem de ciência do século XXI, um ser
medíocre que já não conhece sua própria imagem refletida no espelho distorcido
que ele mesmo gestou. Assim, a ciência tem criado a solidão da negação das
artes e de seu poder de inventividade. Tem criado a cela para sua clausura, a
corda para seu próprio enforcamento, tem enterrado há sete palmos seus projetos
de vida e de mundo.
É
mais que chegada a hora de se repensar a ciência. Ainda temos alguns segundos
históricos para repensarmos nossa existência, pois, bem lá no fundo de sua
própria criação o ser humano pede socorro, banido de sua espécie por sua
própria ganância. É o homem coisificado que luta, desesperadamente, em busca de
sua própria essência, à procura de si mesmo.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Professor e pesquisador das temáticas “Alterações Climáticas” e
“Impactos socioambientais sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos”. pesquisa.fonseca@gmail.com
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