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domingo, 23 de junho de 2013

Os perigos do dito “apartidarismo”

Fonte: biscatesocialclub.com.br
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Uma das coisas que se viu nas manifestações, por sinal legítimas, do povo brasileiro nas ruas pelas principais cidades do país é a questão do suposto “apartidarismo”, destacado com veemência por diversos veículos dos meios de comunicação de massa. Esta questão, em particular, me chamou a atenção e tem me preocupado desde o momento em que ganhou relevância nos atos de protestos em todo o país. Diante dessa questão, é preciso realizar uma reflexão e fazer algumas considerações, pois se trata de algo extremamente perigoso para a democracia, em especial para a jovem e inexperiente democracia brasileira.
Para analisar esta situação real colocada por um amplo setor de manifestantes é preciso que recorramos à história das lutas do movimento operário mundial. Fala-se de movimentos “apartidários”, “não políticos” como forma de repudiar a inoperância dos partidos políticos brasileiros, o que é altamente salutar. Mas, em primeiro lugar faz-se necessário o entendimento do que é a política. A política é a capacidade do ser humano de opinar, de fazer escolhas, de recusar, de criticar e de se organizar livremente segundo suas próprias concepções e aspirações. Assim, a política verdadeira constitui-se num dos pilares básicos sob os quais se edificam quaisquer processos democráticos. Assim, as próprias manifestações são atos extremamente políticos, o que também é justo e louvável. Por isso, negar a política é repudiar a democracia legítima. É preciso separar a política, inerente de todo ser humano da “politicagem”, a qual nada mais é do que o desvirtuamento total da arte de fazer política. Nada mais é do se utilizar dos direitos e da arte de fazer política em seu próprio benefício, em detrimento dos interesses coletivos.
A política, cujas bases se edificam sobre a liberdade de o ser humano se organizar livremente segundo seus anseios e concepções, tem nos partidos políticos uma das expressões legítimas de livre organização e expressão. Quando negamos o direito de organização e expressão dos partidos políticos, estamos entrando em contrassenso com os princípios democráticos que afirmamos defender e afirmando os princípios de totalitarismo, o que somente pode levar a sistemas ditatoriais e sanguinários, cuja história já comprovou do que são capazes de fazer. Diante destes elementos levantados, o discurso falacioso do “apartidarismo” significa o reforço da ideia do regime do “partido único”, dos ideais totalitários, das ditaduras em todas suas formas e vertentes. Assim, empunhar a bandeira do “apartidarismo” não fortalece em nada a democracia, como ingenuamente (ou não) pensam muitos. Muito pelo contrário, planta-se a semente de um regime totalitário, que tolhe a liberdade total dos povos.
A história da humanidade já deu mostras suficientes dos resultados deste tipo de pensamento. Vimos a ascensão dos maiores ditadores do mundo, a exemplo de Adolf Hitler na Alemanha, Benito Mussolini na Itália, Salazar em Portugal, Franco na Espanha, Idi Amin Dada (o Bug Daddy) em Uganda, e a era da ditadura Vargas no Brasil. Todos esses regimes totalitários tinham a base de seus discursos edificados inicialmente sob os argumentos do dito “apartidarismo” e que, posteriormente evoluíram para o ideário do “partido único”.
Neste texto não estou defendendo este ou aquele partido político. O que quero deixar claro, é que num regime democrático, a defesa da livre organização partidária constitui um dos pilares básicos da liberdade de organização e expressão. Podemos e devemos legitimamente discordar e combater os princípios ideológicos e as práticas hediondas de diversos partidos e agremiações políticas, mas jamais podemos cerceá-los da participação política em manifestações e atos que tenham como eixo a defesa dos princípios democráticos. Caso contrário, estaremos plantando a semente do “totalitarismo”, terreno fértil para o florescimento do racismo, xenofobia e o preconceito em todas as suas formas e matizes. Agindo assim, estaremos transformando as manifestações legítimas do nosso povo, de nossa juventude, em atos que futuramente edificarão o terreno para regimes fascistas, neonazistas e totalitários, comandados pela extrema direita assassina e sanguinária.          


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquisa.fonseca@gmail.com

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