Foto: Retalho da Mata Atlântica (Sorocaba/SP) Fonte: Arquivo Prof. Valter M. da Fonseca (2013) |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
É mais que notório a importância das florestas tropicais para vida de todas
as espécies de seres vivos do planeta, além de influenciarem diretamente sobre
as condições climáticas do planeta. Trata-se de cossistemas riquíssimos, com
enorme variedade de espécies animais e vegetais, além de extenso potencial em
recursos hídricos.
Furlan (1999, p.10) disserta sobre os ecossistemas das floresta tropicais:
As florestas tropicais cobrem 8% da superfície do planeta e, segundo
estimativas, cerca de 50% de toda a madeira em crescimento que existe sobre a
face da Terra estão nelas localizadas. Aproximadamente 40% da diversidade
biológica que conhecemos para os ambientes terrestres aí se encontram. Com tudo
isso, é de se imaginar que as florestas tropicais apresentem potencial para
inúmeras outras finalidades além do fornecimento de madeira, embora esse
continue sendo um dos seus principais produtos de extração e talvez o maior
motivo de sua destruição. As florestas tropicais estão desaparecendo a uma taxa
anual de 15,4 milhões de hectares; ou seja, quase 1% de sua área desaparece a
cada ano. Essa taxa, apesar de considerada muito alta, aumentou muito pouco
desde a década de 1960.
Neste estudo, pela inviabilidade da análise todas as florestas tropicais do
mundo, trataremos em especial da Floresta Amazônica.
O professor A’b Sáber define desta forma este complexo e vastíssimo
ecossistema:
No cinturão de máxima diversidade biológica do planeta – que tornou
possível o advento do homem – a Amazônia se destaca pela extrordinária
continuidade de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede
hidrográfica e pelas sutis variações de seus ecossistemas, em nível regional e
de altitude. Trata-se de um gigantesco domínio de terras baixas florestadas,
disposto em anfiteatro, enclausurado entre a grande barreira imposta pelas
terras cisandinas e pelas bordas dos planaltos Brasileiro e Guianense (A’B
SÁBER, 2003, p.65)
Segundo dados dos centros de pesquisas internacionais, a Amazônia
brasileira, que ocupa 4.871.000 km2, cerca de 61% do território nacional, é o
grande atrativo em uma época em que a biotecnologia agrega valor à
biodiversidade. O valor dos serviços de ecossistemas e capital natural
representa 33 trilhões de dólares atuais, quase duas vezes o produto interno
bruto (PIB) mundial. No Brasil, estima-se que este valor atinja 45% do PIB,
considerando-se somente a atividade agroindustrial, a extração de madeira e pesca.
A Amazônia possui 30% de todas as seqüências de DNA que a natureza combinou em
nosso planeta, um estoque genético que representa fonte natural de produtos
farmacêuticos, bioquímicos e agronômicos. Estima-se que existam de 5 a 30
milhões de espécies na Amazônia, estando apenas 1,4 milhões dessas catalogadas:
750 mil espécies de insetos, 40 mil de vertebrados, 250 mil espécies diferentes
de árvores/hectare, 1400 tipos de peixes, 1300 espécies de pássaros e mais de
300 espécies de mamíferos diferentes. Só no Brasil, há 2,8 mil espécies de
madeiras distribuídas em 870 gêneros e 129 diferentes famílias botânicas que
representam, aproximadamente, 1/3 das florestas tropicais do mundo, uma reserva
estimada em 1,7 trilhões de dólares somente em madeira de lei.
Mas, a
Amazônia sempre foi alvo de cobiça, justamente pelo seu enorme potencial de
biodiversidade e de recursos minerais. Nos últimos tempos, a floresta tropical
tem sido atingida, frontalmente, pela prática dos desmatamentos, pelo tráfico
da madeira, de plantas medicinais, da fauna, dos recursos minerais. São
milhares de hectares de floresta virgens derrubados todo ano, para atender o
tráfico internacional de madeira de lei e expansão da fronteira agrícola. Há
que se considerar, ainda, que a Floresta Amazônica possui solo pobre[1]
e a remoção de sua cobertura vegetal pode levar grandes extensões do bioma ao
processo de desertificação. O grande potencial de recursos naturais da Amazônia
acha-se enormemente ameaçado pelo desflorestamento e pelas queimadas criminosas
que ocorrem no bioma. Aliás, é incalculável o valor da biodiversidade perdida
pelas queimadas e desmatamentos que já ocorreram até o momento.
Fonseca
(2008) aponta cinco consequências do desmatamento e da expansão da fronteira
agrícola no ecossistema da floresta amazônica:
·
Destruição da
biodiversidade – O desmatamento elimina de uma só vez grande contingente de
espécies muitas vezes desconhecidas, além disso, homogeneíza o ecossistema
quando se implanta a monocultura.
·
Destruição do solo – A
retirada da floresta rompe com o sistema natural de ciclagem de nutrientes, que
na Amazônia se realiza com pouca transferência para o solo. Os solos deixam
também de ser protegidos da erosão pelas chuvas.
·
Estudos realizados pela
EMBRAPA no Estado do Pará constataram que, dos 3,5 milhões de hectares de
pastagens que substituíram a floresta, 500 mil se degradaram num intervalo de
doze anos.
·
Mudanças climáticas – As
florestas são responsáveis por 56% da umidade local. Sua destruição elimina
essa fonte injetora de vapor d’água na atmosfera, responsável pelas condições
climáticas regionais. Ao mesmo tempo diminui o poder de captura do CO2
atmosférico.
·
Estresse e doença – As
monoculturas implantadas na Amazônia são mais sensíveis a pragas e doenças. O
ecossistema sob estresse tem tolerância menor ao ataque de parasitas e doenças;
conseqüentemente, têm sido introduzidas na Amazônia grande quantidade de
inseticidas e agrotóxicos para atacar as pragas, o que destrói ainda mais a
diversidade de espécies e contamina os ecossistemas aquáticos. (FONSECA, 2008,
p.19)
Princípios
internacionais para a conservação das florestas tropicais
Existem
certos princípios que têm sido aceitos por organismos não governamentais quanto
por cientistas e alguns órgãos de governo. Segundo Furlan (1999), são eles:
§ As florestas tropicais são ecossistemas variados e complexos. Portanto,
o seu manejo deve levar em conta o equilíbrio do conjunto de fatores bióticos e
abióticos dos quais dependem , garantindo os bens que as florestas podem
oferecer;
§ Na América Latina, onde se encontram as maiores extensões de florestas
tropicais, vivem múltiplos povos, em especial os indígenas. A consideração de
seus direitos territoriais, sociais e culturais, de suas formas de particulares
de vida e de civilização, assim como o uso dos recursos naturais, são condições
indispensáveis para se construírem sociedades mais justas e sustentáveis;
§ A responsabilidade pela conservação e pelo uso racional das florestas
tropicais compete a toda a sociedade. Os Estados latino-americanos, que dispõem
de ferramentas e instrumentos para garantir tal tarefa, devem permitir a
participação dos cidadãos nas tomadas de decisão que afetem as florestas
tropicais. (FURLAN, 1999, p.104)
Alguns
princípios gerais para um planejamento ambiental
Ross (1995) complementa estes princípios ao
estabelecer parâmetros para um efetivo planejamento ambiental, que ele chama de
planificação. A planificação, quando visa considerar critérios de
potencialidades e impactos ambientais, deve ter em conta que:
·
A região é um
conjunto interativo dos aspectos socioculturais e naturais;
·
A planificação e a
gestão são processos interativos e devem criar metas em longo prazo;
·
A planificação exige
interdisciplinaridade na resolução dos problemas;
·
O planejamento
ambiental deve adotar um enfoque ecológico-holístico no qual o homem integra
esse sistema;
·
Um planejamento
ambiental deve buscar o uso múltiplo do território e a reutilização como forma
lógica de maximizar o aproveitamento dos recursos naturais para satisfazer às
necessidades da produção;
·
A sociedade deve ter
participação intrínseca no processo. (ROSS, 1999, p.201)
Ainda segundo Ross (1995), os planos de conservação podem ser construídos
conforme diferentes modelos metodológicos de planejamento. Levando-se em
consideração essas premissas, o uso de um recurso natural ou do conjunto dos
recursos de uma região pode ser planejado conforme a seguinte sequência:
1.
Estabelecimentos dos objetivos;
2.
Levantamento das características físicas, biológicas e
culturais do território – a profundidade do inventário varia com a profundidade
dos objetivos a atingir;
3.
Valoração dos temas inventariados em termos de sua
qualidade e grau de excelência;
4.
Predileção da relação uso x território, avaliando-se o
grau de impacto de acordo com as aptidões apresentadas pela região;
5. Gestão e avaliação visando à
maximização da aptidão global com a minimização do impacto. (ROSS, 1999, p.202)
Em todos os ramos das ciências as ações sempre demandaram planejamentos.
Mas, nos tempos atuais, em particular, este planejamento se torna
imprescindível. Os ecossistemas terretres nunca sofreram tantos impactos em
função da antrópica como nos dias de hoje. o grande desafio é o planejamento de ações
equilibradas que possam garantir a sustentabilidade da Amazônia, não perdendo
de vista o bem-estar, a segurança e a preservação da cultura, do conhecimento e
dos saberes dos povos que habitam a floresta. A luta é para que a ciência
avance de uma tecnocracia que domina o homem, para uma tecnologia a serviço da
humanidade.
Referências
A’B SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
FURLAN, Sueli Ângelo. A conservação das florestas tropicais. São Paulo: Atual, 1999. –
(Série meio ambiente)
ROSS, Jurandir Luciano Sanches (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp,
1995. – (Didática; 3).
CALHEIROS R. de Oliveira et. al. Preservação e Recuperação das Nascentes.
Piracicaba: Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ – CTRN, 2004.
FONSECA, Valter Machado da. SINAL DE
ALERTA:Amazônia, o bioma ameaçado. In: IV Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21
a 24 de julho de 2008, Estância Turística de Tupã (SP), CD-ROM (Anais). ISSN: 1980-0827.
______.Um bioma em extinção: a expansão da
fronteira agrícola no Cerrado Brasileiro. In: IV Fórum Ambiental da Alta
Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância Turística de Tupã (SP), CD-ROM (Anais). ISSN: 1980-0827.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor
pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
[1] Apesar da enorme
exuberância da Floresta Tropical Amazônica seu solo é pobre em nutrientes e,
até certo ponto, possui grandes quantidades de silicatos (SiO2), o
que lhe confere uma forte tendência à desertificação. A floresta sobrevive
apenas da matéria orgânica e do húmus produzido por ela própria. A remoção da
floresta acarretará a perda total de macros e micros-nutrientes, além de deixar
o solo totalmente exposto aos processos erosivos (principalmente ravinas e
voçorocas).
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