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sexta-feira, 1 de março de 2013

É DOCE MORRER NO MAR!

Fonte: poesiaprosaemais.blogspot.com
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
É doce morrer no mar! Assim diz a canção de Dorival Caymmi. Na verdade, o mar tem um significado enorme para a maioria da população de seres humanos, muito embora grande parte das pessoas resida distante dele. A estreita ligação entre o mar e os seres vivos é explicada justamente pelo fato de a vida ter tido seu início exatamente no mar. Os primeiros organismos unicelulares evoluíram a partir da água, em especial dos mares e oceanos.
A comprovação destas evidências científicas está registrada nas características e nos modos de vida de diversas espécies animais como focas, leões marinhos, morsas e nos próprios anfíbios. Estas espécies guardam características que evidenciam serem elos de transição entre a água e a terra (entre o oceano e os continentes) tais como nadadeiras ao invés de patas, organismos adaptados para dividirem o tempo de vida entre o mar e as terras emersas. O próprio ser humano, quando de sua estada no útero materno, encontra-se submerso em uma bolsa d’água (a placenta) até quase a hora do nascimento. Então, é intrínseca a ligação entre os seres vivos e o mar.
Por outro lado, o mar também faz parte da cultura humana há séculos. Nesta direção interpretativa, é importante evidenciar os mitos e lendas que fazem parte da cultura humana, ligando-o umbilicalmente ao mar, como as crenças em Iemanjá, nos contos de sereias, monstros marinhos, caboclos d’água, dentre diversas outras crenças. O próprio batismo católico e de outras religiões, tem como elemento simbólico essencial a água, enquanto elemento de purificação da “alma” e do “espírito” humanos. Muitas tribos já adoravam o mar desde muitos séculos atrás. Levavam oferendas ao “Deus do Mar”, como forma de agradecimento a muitas dádivas recebidas.
O mar ainda foi e ainda é, o grande instrumento de admiração das artes, como a música, a literatura, o cinema, a poesia, dentre tantas outras formas de expressão artística do povo em geral, inclusive de uma boa parcela da intelectualidade. Quantos poemas já não foram feitos tendo o mar como referência? Quantas películas não tiveram seu enredo desenrolado no oceano ou, então, não tiveram o mar como “pano de fundo”? Quantas canções não tiveram o mar como fonte de inspiração? Quantas melodias não reverenciam o mar?
É por tudo isso, que a letra da canção de Caymmi vem a calhar. É doce morrer no mar! Ele talvez tenha sido o compositor brasileiro que mais se utilizou do mar como fonte de inspiração para compor suas lindíssimas canções e arranjos. O mar como fonte da vida, também pode ser um local plenamente belo para o repouso eterno. Como fonte de toda a vida neste planeta azul, ele pode, perfeitamente, ser o melhor local para fechar o “Ciclo da Vida”. As águas tranquilas do oceano, o tom de intenso azul do Atlântico, o verde/azulado do Pacífico, talvez seja a evidência mais forte de que suas águas escorrem por entre os labirintos e pelas entranhas da arte, da cultura humana, enfim, da essência da existência humana. Talvez, por tudo isto, Dorival Caymmi esteja coberto de razão: deve ser realmente doce descansar no imenso azul de infinita beleza. Deve ser realmente doce morrer no mar.  


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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