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domingo, 3 de março de 2013

ANATOMIA DA “CRISE” ALIMENTAR

Fonte: www.inesc.org.br
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*

O debate sobre a crise alimentar ganhou ênfase desde a década de 1960 do século XX e vem ganhando as manchetes da mídia nacional e internacional desde então. A partir daí, são diversas correntes que reivindicam do pensamento e das ideias de Thomas Malthus acerca da necessidade da produção de alimentos em acompanhar o crescimento exponencial da população mundial. A teoria e o discurso malthusiano foram elaborados a partir do crescimento vertiginoso da população entre os anos 1650 e 1850, em função dos avanços tecnológicos em todo o planeta, o que proporcionou um maior tempo e maior qualidade de vida para amplos setores da população planetária.

Na verdade, esta constatação, aparentemente verdadeira, caiu por terra em função das mudanças de comportamento de amplos contingentes da população do planeta acerca da necessidade efetiva de um planejamento familiar, diante da realidade sócio-econômica e cultural dos povos de diferentes nações, em especial dos países mais desenvolvidos e mais industrializados. O que passou a ser percebido a partir de então foi a estabilização e mesmo a queda dos índices de natalidade nos principais centros desenvolvidos em nível de planeta. Mesmo em países da América Latina, onde anteriormente havia um número descontrolado de natalidade infantil, percebe-se esta acomodação, principalmente a partir dos anos 1980.

Mas, esta tendência mundial não consegue minimizar e, muito menos esconder, os graves problemas decorrentes da gigantesca desigualdade social em diversos países em diferentes continentes. Varias são as nações marcadas pela fome, pelo déficit de energia alimentar. Podemos destacar os países africanos com a Etiópia, Somália, Chade, Sudão, Zimbábue, Níger, Botsuana, Quênia, dentre outros. A fome também se faz presentes em localidades como Coréia do Norte, Afeganistão, uma parte da Índia, Haiti e outras nações caribenhas. Mesmo no Brasil, onde o problema da fome já foi bastante minimizado, em diversas regiões como o semi-árido e o Polígono das Secas ele se manifesta de maneira bastante expressiva.

Neste sentido, afere-se que o problema da fome, diferentemente do que pensam os defensores do discurso malthusiano, se liga intrinsecamente, nos dias atuais, à questão da desigualdade social decorrente da má distribuição de renda nos países pobres, à impossibilidade de acesso à educação, a um sistema efetivo de saúde pública, a condições extremamente precárias de saneamento e, muitas vezes, à má administração dos parcos recursos econômicos dessas localidades onde habitam um número considerável de pessoas famintas e miseráveis.

Por outro lado, é possível perceber que existem localidades com grande produção de alimentos, porém, esta produção não visa ao atendimento das necessidades das localidades atingidas pela fome, mas, ao atendimento de fatias altamente lucrativas do mercado consumidor internacional que clamam por produtos agrícolas. A produção agrícola em diversos continentes e países que primam por produtos de exportação, também gera um alto índice de desperdício alimentar. Neste trabalho, a preocupação central é mapear, por intermédio de pesquisa de campo as maneiras como ocorre o desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, quantificar e analisar este desperdício. Diante disso, este trabalho é muito significativo, no sentido de debater as reais possibilidades de enfrentamento a este gigantesco problema da fome, que infelizmente toma conta de extensas regiões e atingem milhões homens, mulheres e crianças em todo o mundo.



* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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