Total de visualizações de página

segunda-feira, 25 de março de 2013

A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro continua

Fonte: noticias.r7.com 
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Há pouco tempo atrás, a região metropolitana do Rio de Janeiro foi abalada por uma grande tragédia na região serrana do estado, mais especificamente na baixada fluminense. A catástrofe que provocou dezenas de vítimas fatais e deixou centenas de pessoas desabrigadas, voltou a se repetir no período chuvoso deste ano de 2013, embora as medidas para a recuperação das moradias dos familiares das vítimas da tragédia passada ainda não tivessem sido tomadas. É uma verdadeira vergonha o descaso com que os governantes deste país (em níveis federal, estadual e municipal) tratam destas questões. Aproveitam destes eventos (tristes e dolorosos para as vítimas) para se promoverem e/ou fazerem lobbies político-eleitoreiros.
À época da primeira tragédia, a Defesa civil chegou a “ordenar” que as famílias atingidas pelos deslizamentos de solo saíssem da região e procurassem moradia em outros locais. Aí é que nos vem à mente a indagação que não quer calar: Onde estas pessoas irão morar? Para onde elas irão? O que farão para recomeçar suas vidas? O pior de tudo, é que tem muita gente que acha que estas pessoas moram nas encostas dos morros porque querem. Na verdade, elas o fazem porque são segregadas do espaço habitável das grandes cidades. Elas são expulsas das áreas planas e habitáveis, pela força do preço abusivo das terras, pela especulação imobiliária (os chamados “terrenos de engorda”), indo parar nos locais inabitáveis, nas áreas insalubres e de risco.
E, por que estes locais são susceptíveis a desmoronamentos? As encostas e vertentes de morros são locais inclinados: estes locais são marcados pela inclinação do terreno, o que o torna vulnerável, susceptível aos deslizamentos de massas: pela força da gravidade somada à declividade do terreno e pelo solo raso que não se fixa sobre a rocha matriz que o sustenta. Todos estes problemas, somados à falta de estrutura física dessas residências marcadas pela precariedade das fundações, pelo material barato e de segunda mão nelas utilizados e pela ausência de qualquer tecnologia de construção civil, pois são feitas geralmente em regime de mutirão, não obedecendo a quaisquer técnicas. Esta série de problemas, adicionados à ausência completa de planejamento urbano e à total falta de orientação das autoridades competentes, deixam estas edificações em condições de risco permanentes. Então, são problemas que não podem ser solucionados pelas comunidades carentes, mas que deveriam contar com o apoio dos poderes públicos (nos três níveis: federal, estadual e municipal).
Então, nossos governantes deveriam em primeiro lugar, antes de sugerir a mudança e deslocamento das comunidades para locais que nem eles sabem onde ficam, auxiliar essas populações com o planejamento de moradias dignas, em locais planos, onde se levem em consideração estudos e pesquisas embasados no uso correto do solo urbano. Trata-se, antes de tudo, de uma política correta de prevenção de riscos, que atendam os interesses das comunidades carentes e não aos anseios daqueles que vivem da especulação imobiliária em nosso país.
Mal acabamos de chorar pelas vítimas da imprudência em Santa Maria (RS) e continuamos a contar a dor e o sofrimento. Até quando vamos ter que tolerar estes descasos?  Se nossos governantes e autoridades não chamarem para si esta responsabilidade, todos os anos, com toda a certeza, contaremos nossos mortos e desabrigados, em tragédias como as da região serrana do Rio de Janeiro e colocando tapumes para esconder nossas favelas para não “poluírem” os olhares dos turistas que certamente virão gastar seus dólares na copa do mundo de 2014 e nas olimpíadas de 2016 na cidade ainda maravilhosa.   


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário