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domingo, 17 de março de 2013

22 DE MARÇO: Dia Internacional das Águas!

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca





RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DA TERRA

RESERVATÓRIO
% DO TOTAL
VOLUME EM
QUILÔMETROS CÚBICOS


Oceano
97,25%
1.370.000.000

Calotas polares/geleiras
2,05%
29.000.000

Água subterrânea
0,68%
9.500.000

Lagos
0,01%
125.000

Solos
0,005%
65.000

Atmosfera
0,001%
13.000

Rios
0,0001%
1.700

Biosfera
0,00004%
600

TOTAL
100%
1.408.700.000





Fonte: MMA[1], 2001
Org.: V. M. da Fonseca, 2006.

Analisando os dados da tabela , nota-se que apesar de o planeta ser constituído em sua maioria absoluta por água, a maioria dela é imprópria para o consumo humano e de diversas espécies de seres vivos. Percebe-se que 97,25% dela estão nos mares e oceanos o que corresponde a 1.370.000.000 Km3, seguido pelas calotas polares (29.000.000 de Km3) que corresponde a 2,05% do total de água do planeta. A água disponível para o consumo humano[2] encontra-se nos reservatórios subterrâneos, nos lagos e nos rios.

PRINCIPAIS ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS

A água é uma substância imprescindível à existência e continuidade da vida no planeta Terra. Ao contrário do que pensam muitos, a vida não começou na terra (nos continentes), mas nos ecossistemas aquáticos e depois evoluiu para os continentes. Daí pode-se inferir sua importância para a vida de todas as espécies presentes em nosso planeta. A mídia comumente afirma que a água no planeta vem diminuindo. Trata-se de uma informação errônea. O que vem diminuindo é a quantidade de água potável, devido à sua contaminação pela ação antrópica. A quantidade total de água no planeta se mantém constante e é regulada por um mecanismo denominado “Ciclo da Água.. No mundo todo, as principais nações estabelecem mecanismos de controle, gestão e regulação de seus recursos hídricos[3], pois, já preveem a escassez de água potável, num futuro próximo.

OS MARES E OCEANOS

Os mares e oceanos, além de serem os ecossistemas mais ricos do planeta em biodiversidade, influem de maneira direta na formação dos vários tipos climáticos do planeta. São também nestes ecossistemas que ocorrem a presença dos alimentos primários para a “Cadeia ou Teia da vida”, os plânctons e fitoplanctons[4]. Os mares e oceanos estão diretamente ligados ao processo de precipitação pluviométrica (regime de chuvas), à formação das massas de ar, responsáveis pela regulação climática e à formação das correntes marinhas, outro componente essencial nos processos climáticos e na regulação térmica das águas dos oceanos.
Este complexo e importante ecossistema é habitado por milhões de espécies tanto animais quanto vegetais. Pesquisas científicas apontam que a origem de todas as espécies de seres vivos ocorreu nestes ecossistemas.
Os mares e oceanos representam um importante mosaico, que serve de registro histórico das atividades geológicas durante vários períodos da história da dinâmica da terra. A oceanografia é o ramo das ciências responsável pelos estudos marinhos. Apesar do avanço das pesquisas, o relevo submarino, principalmente o das regiões mais profundas (abissais) ainda não é suficientemente conhecido, se comparado com as pesquisas realizadas nos continentes. A litologia[5] do fundo dos oceanos não é conhecida por processos diretos, mas sim por intermédio de dragas e sondas especiais e de conhecimentos e experiências na área de sismologia[6].
Os mares e oceanos apresentam as seguintes feições topográficas principais, a saber:
1 – As margens continentais, formadas pelo talude continental, plataforma continental;
2 – A elevação continental;
3 – Os assoalhos oceânicos;
4 – Os sistemas de cordilheiras oceânicas.
A vida de todas as espécies que habitam os ecossistemas continentais está diretamente ligada à vida marinha, pois os mares e oceanos além de fornecer inúmeros nutrientes para as demais espécies que habitam os continentes, também são elementos que interferem diretamente nas formações climáticas, no processo de precipitações pluviométricas e na formação das correntes de ar.
É importante destacar que este vasto ecossistema, em especial nos dias atuais, tem sido afetado por desastres ecológicos que ameaçam a vida de suas espécies, a exemplo de derramamento de óleos, poluição das águas litorâneas, acúmulo de dejetos nas águas, ações de despejos de resíduos domésticos e industriais, dentre outras ações degradantes do ambiente marinho. A degradação do ambiente marinho tem despertado a atenção de importantes setores da sociedade, Organizações Não Governamentais (ONGs), as quais tem se empenhado na proposição de ações preservacionistas para minimizar os efeitos da ação humana sobre este ecossistema.

OS MANGUEZAIS: ECOSSISTEMAS DE TRANSIÇÃO

Muitos estudiosos afirmam que os mangues ou manguezais são ecossistemas de transição entre os ecossistemas terrestres e aquáticos. Mas, o que sabe de fato e que, no fim das contas é mais importante, é que se constituem em ecossistemas riquíssimos em espécies responsáveis pelo equilíbrio de vários outros ecossistemas, apesar de serem extremamente frágeis.
O Manguezal também é conhecido pelo nome de Mangal ou Mangue. Trata-se de um ecossistema litorâneo, de transição entre os ambientes terrestres e marinhos. São zonas úmidas próprias de regiões tropicais ou subtropicais. 
Os Manguezais cumprem papéis preponderantes na manutenção das espécies, pois são responsáveis pelo fornecimento de matéria orgânica para os estuários, auxiliando, dessa forma, como produtores primários de nutrientes na zona costeira dos continentes. Estão entre os ecossistemas complexos e os mais férteis e diversificados do planeta. A sua rica diversidade biológica faz destas áreas grandes “berçários” naturais, tanto para espécies do próprio ecossistema, como para outros animais, aves, moluscos, peixes e crustáceos, que encontram nestes ambientes, as condições ideais para sua reprodução e sobrevivência. Daí sua importância ecológica e/ou econômica. Esses ambientes são responsáveis pela produção de cerca de 95% dos alimentos que o homem captura no mar. Sua manutenção é vital para as comunidades pesqueiras que habitam o seu entorno. Em relação aos solos, a vegetação dos mangues funciona como fixadores dos solos, impedindo a erosão e servindo como estabilizador da linha costeira. As raízes do manguezal funcionam como filtros para retenção dos sedimentos. Os manguezais constituem-se em importantes bancos genéticos para a recuperação de áreas degradadas, principalmente às afetadas por metais pesados.
É possível a exploração sustentável dos manguezais?
Sim! Os manguezais podem ser explorados de maneira sustentável, desde que se observem certas particularidades. Diversas atividades podem ser realizadas de forma sustentável nos manguezais:
- Pesca esportiva, artesanal ou de subsistência, desde que se respeitem as épocas de criação e procriação das espécies;
- Utilização de madeira das árvores, desde que se assegure o correto reflorestamento;
- Cultivo de ostras, caranguejos e outros seres aquáticos;
- Cultivo de plantas ornamentais, como orquídeas e bromélias;
- Atividades de apicultura;
- Exploração do potencial turístico, recreativo, educacional e de pesquisa científica.

Segundo estimavas, existem 170.000 de Km2 de manguezais, em todo o planeta. Deste total, aproximadamente 15% (26.000 Km2) estão distribuídos no litoral brasileiro do Estado do Amapá até Santa Catarina. Vários destes manguezais estão sendo transformados em áreas de preservação.


AS GELEIRAS

Cerca de 10% (uma extensão aproximada de 15 milhões de Km2) das áreas ocupadas pelos continentes, no globo terrestre, são cobertas de gelo perene[7], sem contar as áreas que se cobrem temporariamente de gelo e neve. As geleiras constituem-se em relevantes agentes de formação geológica, que agem sobre os processos de modelagem do relevo terrestre, além de serem imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio do grande ecossistema planetário, agindo como controladoras do nível de água dos oceanos. Elas também possuem incidência direta sobre o clima global, uma vez que controla o nível dos oceanos, além do que, as regiões polares e/ou de clima frio constituírem um ecossistema riquíssimo em diversidade biológica e responsável, ainda, pela refrigeração (ao lado da vegetação) e controle térmico do planeta.
Há aproximadamente 1 (um) milhão de anos atrás, quase 30% da superfície dos continentes esteve coberta por gelo perene, portanto uma superfície quase 3 vezes maior que a cobertura atual. Mesmo no Brasil, isento hoje da ação do gelo, já sofreu no passado remoto, há cerca de 200 milhões de anos, intensas atividades glaciais, deixando numerosos vestígios em todo o sul do país. Estes elementos e dados demonstram a importância do gelo para a compreensão das condições climáticas das remotas eras do planeta Terra. As atividades do gelo são muito importantes para os estudos paleoclimáticos, possibilitando, muitas vezes ter-se uma idéia do ambiente em tempos passados, às vezes bastante remotos.
Hoje, estudos avançados demonstram que as calotas[8] polares (geladas) e o gelo permanente de altitude, são elementos fundamentais para manter o equilíbrio da dinâmica da Terra. Alterações significativas nestas condições podem mexer com a estabilidade climática de todo o planeta, e comprometer seriamente o equilíbrio do ambiente terrestre.
As formas arredondadas nas pontas das montanhas de gelo indicam a ocorrência do fenômeno do degelo destas geleiras. Nos dias atuais este fenômeno vem se tronando mais intenso em função do aquecimento global, ocasionado pela emissão de gases poluentes para a atmosfera do planeta. As geleiras são constituídas de água doce, mas que quando se derretem suas águas se incorporam às águas salgadas dos oceanos. O derretimento das geleiras, além de interferir no equilíbrio climático do planeta, também provoca o aumento do nível dos mares e oceanos. O derretimento das geleiras também tem interferido na vida de diversas espécies que habitam as regiões no entorno das calotas polares do planeta. Além dos polos, as geleiras são encontradas também em zonas de grandes altitudes e são chamadas de gelo de altitude.
Nas regiões frias e temperadas encontramos ecossistemas típicos chamados tundra e taiga, respectivamente. São vegetações típicas de clima frio que abrigam importantes espécies, tanto animais quanto vegetais.


O TRATADO DA ANTÁRTIDA

A Antártida, também conhecida como Polo Sul, ou “Continente Gelado”, é um ecossistema de grande importância para todas as nações e um potencial objeto de investigação científica. O continente situado na extremidade do Hemisfério Sul do planeta, é um rico mosaico que abriga importantes espécies que servem de parâmetros para as pesquisas sobre o estágio de preservação ambiental do planeta. A investigação de sua fauna e flora pode levar a importantes indícios sobre a qualidade da saúde ambiental do ecossistema planetário.

As Nações Unidas e o Tratado da Antártida

O continente gelado adquiriu grande importância para as diversas nações do mundo. Tanto é que um número significativo de nações possuem bases de pesquisas científicas no continente, visando realizar observações sobre diversos aspectos relativos à fauna, flora, solo, paisagens, alterações climáticas, dentre outras.
O Tratado da Antártida é um compromisso oficial datado de 1º de dezembro de 1959, pelas nações que reivindicavam a posse de partes do continente, visando a realização de pesquisas de caráter meramente científicos. Os países/membros se comprometeram a realizar tais pesquisas em regime de cooperação internacional entre as diversas nações integrantes do acordo.     
O Brasil possui uma base de pesquisas científicas no continente gelado. É a base militar Comandante Ferraz. Esta base já forneceu elementos e observações significativas para o desenvolvimento de pesquisas científicas no Brasil, bem como para o desenvolvimento de ações de preservação ambiental em nosso país. Países que possuem base de pesquisas científicas na Antártida: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Equador, Espanha, EUA, Finlândia, França, Índia, Itália, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Peru, Polônia, Portugal, Reino Unido, Rússia, Suécia, Turquia, Ucrânia, Uruguai.
O Tratado adota as seguintes regras reguladoras das atividades na região:
·         Assegura a liberdade de pesquisa, cujos resultados devem ser permutados e tornados livremente utilizáveis, estando prevista a presença de observadores das Partes Contratantes com acesso irrestrito a qualquer tempo e em qualquer lugar, aí incluídas todas as estações, instalações e equipamentos existentes na Antártica;
·         Permite que equipamento ou pessoal militar possa ser introduzido na região, desde que para pesquisa científica ou para qualquer outro propósito pacífico;
·         Exorta as Partes Contratantes a empregarem esforços apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas, para que ninguém exerça, na Antártica, qualquer atividade contrária aos princípios do Tratado;
·         Admite a modificação ou emenda do Tratado a qualquer tempo, por acordo unânime das Partes, ou após decorridos trinta anos de vigência, por solicitação de qualquer uma das Partes Contratantes;
·         Elege o governo dos Estados Unidos como depositário dos instrumentos de ratificação do Tratado e concede a possibilidade de adesão a qualquer Estado que seja membro das Nações Unidas;
·         Define a área de jurisdição do Tratado como aquela situada ao sul de sessenta graus de latitude sul, incluindo as plataformas de gelo, ressalvando, contudo, a preservação do direito internacional aplicável ao alto-mar;
·         Estabelece que nenhuma nova reivindicação, ou ampliação de reivindicação existente, relativa à soberania territorial na Antártica, será apresentada enquanto o presente Tratado estiver em vigor e;
·         Proíbe a realização de explosões nucleares e o depósito de resíduos radioativos (primeiro acordo nuclear internacional).

Então se pode concluir que as ações desenvolvidas pelas diversas nações que fazem parte do Tratado da Antártida são extremamente relevantes para os estudos dos diversos ecossistemas terretres, bem como das diversas espécies que os compõem. Assim, por intermédio de observações do comportamento dos elementos da fuana, da paisagem, do fenômeno do derretimento das geleiras, podem-se inferir importantes diagnósticos sobre a saúde ambiental do planeta. Por meio destes diagnósticos podem se promover ações, visando à preservação de diversos ecossistemas e suas em várias partes do globo terrestre. A triste constatação que se tem observado nos últimos anos, em investigações científicas no “Continente Gelado” é o elevado índice de derretimento de geleiras e Icebergs, em decorrência do aquecimento global, fruto da ação predadora do homem sobre o ambiente. 
As regiões alagadas e pantanosas

Outros ecossistemas relevantes e responsáveis por manter o nível do lençol freático são as áreas alagadas e/ou pantanosas. Estas áreas geralmente apresentam vegetação exuberante, composta por espécies vegetais cujas raízes se adaptam às áreas de alagamento. Possuem uma fauna rica e composta de mamíferos (que geralmente vivem nas copas das árvores, a exemplo dos primatas), répteis, anfíbios, crustáceos, além de uma grande variedade de insetos. Estas áreas geralmente possuem razoável estado de conservação, por serem de difícil acesso e pouco propícia á ocupação humana.
Outro ecossistema importante das áreas alagadas são as Veredas, muito comuns no Cerrado brasileiro. Segundo MALHEIROS et. aL (2004, p.19) “Vereda é o espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos[9], caracterizado predominantemente por renques de buritis[10] do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica”. Alguns estudiosos consideram as veredas como um subsistema dentro do Cerrado. A Agência Nacional das Águas estuda uma legislação específica para regular a exploração das veredas, uma vez que grande parte das vezes a existência das veredas está associada à existência de nascentes de água doce, ou estão próximas dos corpos d’água.

O Pantanal Mato-Grossense

O pantanal mato-grossense é considerado um dos mais belos e mais ricos biomas do mundo. É considerado por muitos um “santuário ecológico da humanidade. O professor Aziz Ab’Sáber, um dos maiores geomorfólogos do mundo e professor da Universidade de São Paulo (USP), assim disserta sobre este importante ecossistema:

Na categoria de uma grande e relativamente complexa planície de coalescência detrítico-aluvial, o Pantanal Mato-Grossense inclui ecossistemas do domínio dos Cerrados e ecossistemas do Chaco, além de componentes bióticos do Nordeste seco e da região periamazônica. Do ponto de vista fitogeográfico, trata-se de um velho “complexo” regional, que os mapeamentos de vegetação, elaborados a partir de documentos de imagens de sensoriamento remoto, transformaram em um mosaico perfeitamente compreensível da organização natural do espaço, e, em nada, “complexo”. [...] Decorrem, disso tudo, novas e maiores responsabilidades para os que se dedicam ao conhecimento dessa grande depressão aluvial, localizada no centro do continente sul-americano (AB’SÁBER, 2006, p.12).                            

A citação de Ab’Sáber (2006) demonstra que o ecossistema pantaneiro é um autêntico mosaico composto por aspectos comuns a vários outros ecossistemas brasileiros, como o Cerrado, a Caatinga, o Chaco, a Amazônia. Assim sendo, ele se torna um ecossistema ímpar, com particularidades não encontradas em nenhum outro ecossistema de alagamento do planeta. Sua vegetação é adaptada ao ambiente aquático durante o verão e terrestre em alguns locais, no inverno. Nele habitam mais de uma centena de espécies de aves com plumagens de todas as cores e matizes, uma grande variedade de mamíferos, em especial os que habitam as copas das árvores como os primatas, diversas espécies de repteis (jacarés e serpentes), quelônios (tartarugas de diversas espécies, cágados), além de centenas de espécies de peixes.
Por sua exuberante beleza e pelo enorme potencial turístico e paisagístico o Pantanal Mato-Grossense e regiões adjacentes têm chamado a atenção de turistas do mundo todo. Muitos proprietários de terras da região têm abandonado as atividades econômicas tradicionais da região para investir em atividades ligadas ao ecoturismo, à pesca esportiva e recreativa, dentre outras atividades ligadas ao setor turístico. Outros trocam as atividades tradicionais pela construção de reservas ecológicas voltadas á exploração sustentável das atividades de turismo e lazer. Isto tem feito com a população local e os proprietários dos estabelecimentos rurais passem a enxergar o ecossistema com outros olhos. Conseguem perceber o potencial turístico-paisagístico regional, como forma de investimentos em atividades sustentáveis, preservando, desta maneira, as espécies que valorizam o ecossistema.
A grande maioria dos produtores rurais pantaneiros já consegue aliar suas atividades agropecuárias com a preservação dos recursos naturais da região. Nota-se, com esta lógica, que as atividades turísticas quando possuem uma gestão correta e eficiente pode auxiliar, sobremaneira, para a preservação dos recursos naturais e das espécies que habitam os ecossistemas naturais. É claro que o Pantanal enfrenta, como todo ecossistema nos dias atuais, problemas de degradação, como a matança indiscriminada de jacarés, a pesca predatória, o desmatamento indiscriminado, o tráfico de animais silvestres, dentre outras formas de degradação. Mas seus moradores têm dado passos decisivos no sentido de superação destes problemas.

Rios, lagos, riachos, córregos e ribeirões

Os corpos d’água superficiais, em especial os rios, riachos e ribeirões são originados de afloramentos dos reservatórios de água subterrâneas, denominados de nascentes. Estes corpos d’água possuem canais de drenagem protegidos por vegetações que os margeiam denominadas matas ciliares[11]. Estes corpos d’água superficiais são as principais fontes de água potável para o consumo humano. Hoje em dia, infelizmente, as fontes de água potável estão sendo cada vez mais ameaçadas pela ação degradante do homem sobre a natureza.
É muito comum, na atualidade, o despejo de dejetos domésticos e industriais diretamente nos corpos d’água. A remoção das matas ciliares deixa as margens dos rios totalmente expostas aos processos erosivos e ao assoreamento do leito dos rios. A destruição da vegetação das nascentes, do mesmo modo, deixam-nas expostas aos processos de degradação e poluição, chegando por muitas vezes, à própria extinção de várias nascentes. Estes processos de poluição e degradação das águas superficiais fez com que os órgãos fiscalizadores criem legislações fiscalizadoras, reguladoras, além de mecanismos que visem a gestão mais eficiente dos recursos hídricos. A legislação atual transforma as nascentes, por exemplo, em Áreas de Proteção Permanente (APPs), com legislação e regulamentação próprias. Em grande parte das vezes os produtos químicos advindos dos insumos agrícolas e agrotóxicos, os resíduos industriais provenientes dos polos industriais, das atividades de mineração, dentre outras, acabam por extinguir a vida de todas as espécies desses ecossistemas, em longos percursos desses corpos d’água.
O acúmulo de matéria orgânica dentro dos rios faz aumentar o número de microorganismos e bactérias consumidoras de oxigênio. Com a falta de oxigênio há extinção de todos os seres vivos aeróbicos. Nesses locais se faz necessário as pesquisas para verificar a DQO[12] e DBO[13], visando garantir a capacidade de auto-purificação das águas. Nestes casos é comum a introdução de espécies vegetais, como microorganismos e algas (anaeróbicas) produtoras de oxigênio. A introdução dessas espécies faz com que a produção de oxigênio volte aos níveis anteriores (antes do acúmulo de matéria orgânica) devolvendo novamente ao rio, sua capacidade de auto-purificação. 
Neste sentido, em alguns locais é necessário a recomposição da vegetação de nascentes e matas ciliares dos rios e seus afluentes. Em outros locais é preciso realizar todo o processo de revitalização desses ecossistemas. Neste tópico trataremos da análise das ações relativas à proteção das nascentes e das matas ciliares.

RECOMPOSIÇÃO DE MATAS CILIARES
                                              
Em locais onde não existem matas ciliares ou estão muito degradadas, elas devem ser repostas. Existem espécies vegetais próprias para recomposição dessas matas. Mas, antes de se iniciar o replantio deve-se realizar um estudo para verificar as espécies que existem ou que existiram nas proximidades, de maneira a realizar o reflorestamento com as mesmas espécies que existiam no local.
Porém, é recomendável a utilização de, pelo menos uma boa parcela, de mudas de espécies frutíferas. As árvores frutíferas têm a finalidade de trazer de volta a fauna, principalmente aves e insetos (a abelha, em especial, é muito importante para a polinização). As árvores frutíferas, além de trazer de volta a fauna regional, também produzem alimentos para diversas espécies de peixes que se alimentam de seus frutos. Cuidar das matas ciliares é uma das formas de manter a vida das espécies do ecossistema, além de proteger o curso d’água dos processos erosivos e do assoreamento.
Os ecossistemas formados pelas matas ciliares desempenham suas funções hidrológicas das seguintes formas:
·         Estabilizam a área crítica, que são as ribanceiras do rio, pelo desenvolvimento e manutenção de um emaranhado radicular;
·         Funcionam como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossistema aquático, participando do controle do ciclo de nutrientes na bacia hidrográfica, através de ação tanto do escoamento superficial quanto da absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pela vegetação ciliar;
·         Atuam na diminuição e filtragem do escoamento superficial impedindo ou dificultando o carregamento de sedimentos para o sistema aquático, contribuindo, dessa forma, para a manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas;
·         Promovem a integração com a superfície da água, proporcionando cobertura e alimentação para peixes e outros componentes da fauna aquática;
O principal papel desempenhado pela mata ciliar na hidrologia de uma bacia hidrográfica pode ser verificado na quantidade de água do deflúvio. Em estudos realizados para verificar o processo de filtragem superficial e subsuperficial dos nutrientes, nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio e cloro; através da presença da mata ciliar, as conclusões foram as seguintes:
·         A manutenção da qualidade da água em microbacias agrícolas depende da presença da mata ciliar;
·         A remoção da mata ciliar resulta num aumento da quantidade de nutrientes no curso de água;
·         Esse efeito benéfico da mata ciliar é devido à absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pelo ecossistema.

PRESERVAÇÃO DAS NASCENTES

Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios). Em virtude de seu valor inestimável dentro de uma propriedade agrícola, deve ser tratada com cuidados especiais.
Segundo Calheiros et. al (2004, p.13):

[...] além da quantidade de água produzida pela nascente, é desejável que tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de um mínimo adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não deve funcionar como um recipiente impermeável, escoando em curto espaço de tempo toda a água recebida durante uma precipitação pluvial. Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água através do solo, armazená-la em seu lençol subterrâneo e cedê-la, aos poucos, aos cursos d’água através das nascentes, inclusive mantendo a vazão, sobretudo durante os períodos de seca.

As nascentes, cursos d’água e represas, embora distintos entre si por várias particularidades quanto às estratégias de preservação: apresentam como pontos básicos comuns o controle da erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção, minimização de contaminação química e biológica e ações mitigadoras de perdas de água por evaporação e consumo pelas plantas. Deve-se estar ciente de que a adequada conservação de uma nascente envolve diferentes áreas do conhecimento, tais como hidrologia, conservação do solo, reflorestamento, etc.
Importante!
As nascentes localizam-se em encostas ou depressões do terreno ou ainda no nível de base representado pelo curso d’água local; podem ser perenes (de fluxo contínuo), temporárias (de fluxo apenas na estação chuvosa) e efêmeras (surgem durante a chuva, permanecendo por apenas alguns dias ou horas).
Cobertura vegetal das nascentes
Toda nascente, por sua importância, é considerada pela legislação que regula a gestão de recursos hídricos, como Área de Preservação Permanente (APP). Sendo assim, existem leis que regulam a disposição da cobertura vegetal de proteção das nascentes, locais e disposição de construções e edificações em áreas de nascentes, localização de estradas, dentre outros fatores que visem a proteção da APP.
A Figura, a seguir, mostra como deve ser a disposição, bem como o tipo de vegetação de proteção das nascentes.
Figura 11: Distribuição esquemática adequada das diferentes coberturas vegetais e usos em relação à nascente.
Fonte: Calheiros et. al (2004, p.27)

Então, a partir deste dia 22 de março vamos procurar aliar nossa consciência com ações práticas efetivas, no sentido de preservação do grande tesouro hídrico brasileiro, em especial os reservatórios de água potável. Pois, ela (a água) é a essência da existência da vida em todas as suas formas, desde as mais simples até as mais complexas, inclusive a espécie humana.

Referências:
A’B SÁBER, Aziz Nacib. Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o Pantanal Mato-Grossense: patrimônios básicos. Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2006.
______. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Preservação dos Recursos Hídricos. Brasília (DF), 2008.
CALHEIROS R. de Oliveira et. al. Preservação e Recuperação das Nascentes. Piracicaba: Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ – CTRN, 2004.
FONSECA, Valter Machado da. SINAL DE ALERTA:Amazônia, o bioma ameaçado. In: IV Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância Turística de Tupã (SP), CD-ROM (Anais). ISSN: 1980-0827.
________.Um bioma em extinção: a expansão da fronteira agrícola no Cerrado Brasileiro. In: IV Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância Turística de Tupã (SP), CD-ROM (Anais). ISSN: 1980-0827.
ROSS, Jurandir Luciano Sanches (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. – (Didática; 3).


[1]Brasil - Ministério do Meio Ambiente – Governo Federal.
[2] Do total de água potável disponível na Terra, 12% estão em território brasileiro.
[3] No Brasil, o organismo responsável pela gestão e controle dos recursos hídrico é a Agência Nacional das Águas (ANA).
[4] São tipos de algas e/ou organismos microscópicos presentes nas águas dos mares e oceanos, que se constituem em fonte primária de alimentação de espécies animais e necessários também para o início do processo da fotossíntese, enfim, são organismos essenciais para o início da cadeia alimentar.
[5] O termo litologia refere-se à composição das rochas e das estruturas geológicas.
[6] Sismologia é o ramo do conhecimento científico que trata, especificamente, do estudo das ondas sonoras e eletromagnéticas, principalmente as ondas sísmicas.
[7] Gelo perene é aquele gelo que permanece durante todo o ano, são permanentes. São extremamente importantes para o equilíbrio ecológico do planeta e pelo controle e regulagem do atual nível dos oceanos.
[8] Denominam-se Calotas Polares às regiões situadas em torno dos pólos, constituídas essencialmente de gelo perene. 
[9] Solos hidromórficos são aqueles que possuem afinidade para a retenção de água.
[10] Espécie de palmeira muito comum nos brejos e nas regiões alagadas, principalmente nas veredas. É um excelente indicador da presença de água e de ambientes preservados. Infelizmente, grande parte das veredas tem sido destruída com a ocupação agrícola do Cerrado.
[11] O termo “ciliares” é uma analogia aos cílios que protegem os nossos olhos. Assim como os cílios protegem os olhos, a vegetação que acompanha os canais de drenagem protege os rios, riachos, ribeirões e lagos. 
[12] Demanda Química de Oxigênio.
[13] Demanda Biológica de Oxigênio.

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