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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

TRAGÉDIA DE SANTA MARIA LEVANTA A QUESTÃO DA PREVENÇÃO

Foto: Incêndio em Santa Maria (RS).                                                                                                        Fonte: g1.globo.com

Foto: Enchente em Duque de Caxias (RJ).                                                                                       Fonte: noticias.uol.com.br

Foto: Queda do alambrado de São Januário (RJ).                                                                             Fonte: www.supervasco.com


Foto: Queda do Edifício Palace II  (RJ)                         Fonte: apatrulhadalama.blogspot.com

Foto: Incêndio no Edifício Joelma (SP). Fonte:  devorador-d6-pecado.blogspot.com


Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*

A tragédia ocorrida em Santa Maria (RS) no último sábado (17 de janeiro), na qual mais de duas centenas de jovens pereceram, vitimados por um incêndio de grande proporções na Boate Kiss, levanta e põe em foco o debate sobre o planejamento e prevenção nas obras e nas estruturas da construção civil, em especial nas construções que visam ao atendimento de grandes aglomerados de população, como é o caso de casa de shows, boates, teatros, cinemas, estádios, dentre outros locais para grandes aglomerações.

No Brasil, é muito comum a falta de preocupação com o planejamento e prevenção de acidentes em obras da construção civil. Mesmo com exemplos históricos como o caso do grande incêndio no edifício Joelma (SP), a queda dos alambrados no estádio de São Januário (RJ), os casos do desmoronamento do edifício Palace II na Barra da Tijuca (RJ), os desmoronamentos em Duque de Caxias (RJ), bem como os frequentes incêndios de menor amplitude registrados no interior do Brasil, os responsáveis pela construção civil no país não dão o devido realce à questão do planejamento das obras com o foco na prevenção de prováveis acidentes. Existe aí uma inversão total da lógica (ou não, talvez esta seja a lógica deles), em primeiro lugar se prioriza a quantidade de pessoas em função do lucro e, por último pensa-se minimamente na questão da segurança dessas pessoas.

Inúmeros são os descasos que vão desde as fundações que sustentarão taís construções, como a utilização de materiais de baixa resistência e de baixa qualidade, descuidos com a fiação e a parte elétrica, utilização de materiais inflamáveis onde não se pode em nenhuma hipótese utilizar este tipo de material, dentre outros fatores. No caso da Boate Kiss a irresponsabilidade foi total, ao utilizarem materiais como espuma e/ou isopor (subprodutos do petróleo, como ficou evidenciado pela rapidez do fogo e a cor escura da fumaça) como suporte de teto para proteção acústica.  Mas, o mais grave nesta questão e que a dor das mortes em Santa Maria infelizmente trouxe à tona, é a questão das saídas de emergência. Quando se trabalha com grande público em locais fechados a questão da evacuação destas pessoas em caso de acidentes graves passa a ser fundamental, o mais importante, sob pena de a contrapartida ser as vidas de milhares e/ou centenas de pessoas. Como é que pode, um local entupido com mais de duas mil pessoas, possuir apenas uma saída de emergência? Trata-se de uma estupidez total.

Espero que esta tragédia, que a morte de maneira totalmente estúpida de mais de duas centenas de jovens tenha servido de lições para a construção civil em nosso país. Será que a “economia” feita com a segurança na construção da Boate Kiss vale a perda de tantas vidas? Espero que a partir do sofrimento de centenas de famílias, os responsáveis pelo setor de construção civil no Brasil passem a dar valor em duas palavras que somente são utilizadas nos discursos dos politiqueiros de plantão em épocas de eleição: planejamento e prevenção. Caso contrário, em breve grande parte da população do país terá esquecido essas valiosas vidas perdidas e voltará a contar seus mortos em possíveis futuros acidentes.   



* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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