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sábado, 12 de janeiro de 2013

Eu quero uma casa no campo!

Fonte: morangonomel.com

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*

Eu quero uma casa no campo! Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais!”. Estes singelos versos da letra da canção de Zé Rodrix e Tavito são magníficos e apropriados para uma bela reflexão acerca dos grandes problemas e abalos decorrentes dos stresses gerados a partir do fenômeno da urbanização na sociedade dos tempos d’agora.

Vivemos num modelo de sociedade que prima pela “vida enlatada” das cidades e dos grandes centros urbanos. Nos grandes centros urbanos, característicos das metrópoles e megalópoles, cada dia, cada rotina do dia a dia torna-se uma aventura. Mas, não uma aventura prazerosa, mas uma sequência de riscos, onde a manutenção da vida torna-se um combate final, uma batalha perigosa. Ao sairmos para o trabalho rotineiro, não temos a mínima certeza se regressaremos ao nosso lar, se voltaremos para o seio da família, enfim, quando saímos de manhã, não temos nenhuma certeza do nosso retorno à noitinha.

O ambiente urbano da modernidade, um amontoado de insignificâncias, é marcado, fundamentalmente, pela marginalidade, pelo medo, pelo caos e pela pressa. Já não sobra nenhum tempo para fazermos uma boa refeição prazerosa, nem tomarmos um café da manhã lendo notícias significativas nos jornais. Ficamos totalmente à mercê do tempo, escravos do relógio. O jornal já não traz mais nenhuma notícia prazerosa, significativa, interessante, mas, traz, no netanto, estampado na capa, em letras garrafais, a morte e a violência. Aliás, esta sociedade consegue transformar a violência em algo desejável por muitos, em mercadoria fresca, pronta para o consumo. Existem grandes fatias do mercado midiático que infelizmente sobrevivem à custa da desgraça humana, fazem dela seu meio de sobrevivência. A violência de muitos se transforma no lucro de alguns poderosos.

Estas são as mazelas urbanas dos tempos presentes. Já vão longe os tempos onde se podia passear tranquilamente nos bondinhos de Santa Teresa (na cidade maravilhosa) ou mesmo tomar um bom chá nos bares da Urca. E, o pior de tudo é que existe um monte de gente que tenta nos convencer de que tudo isto é qualidade de vida. Que não podemos ser felizes sem esta parafernália toda, que não podemos viver sem os ruídos estridentes, sem o “neon” da poluição visual e sem o veneno dos enlatados que consumimos nos Shoppings Centers. Aliá, ele (o shopping Center) é a marca maior desta sociedade do supérfluo e do descartável. Ele não tem janelas para que percamos propositalmente a noção do tempo. Trata-se de um ambiente sinteticamente acondicionado para que não sintamos frio nem calor e fiquemos em seu interior e consumamos o máximo possível de tempo. E, para isso, as lojas são estrategicamente localizadas em todos os lados dos corredores para que jamais as percamos de vista. Por isto, os Shoppings são os símbolos máximos das metrópoles, os símbolos máximos do “bem-estar” desta sociedade onde tudo é coisificado.

Então, a cidade enquanto uma porção do espaço de “natureza ausente”, do sintético, do superficial, é um artifício poderoso para afastar o homem das coisas naturais e realmente belas. Criam-se valores estéticos de acordo com as regras do consumo, onde todos os nossos atos são milimetricamente controlados pela “estética” artificialmente induzida, forçada, que tem com principal função determinar o que é belo ou feio, o que está na moda ou fora dela, do que devemos gostar e o que devemos desprezar. Já não podemos escolher, escolhem por nós. Já não podemos pensar, pensam por nós.

Bem, meus caros leitores! Estes são os valores encontrados como marca do bem-estar desta sociedade, como símbolo maior dos valores que escolheram para dar significação à nossa existência. E, é por tudo isto que eu reafirmo a canção de Zé Rodrix: “Eu quero uma casa no campo! Onde eu possa ficar no tamanho da paz [...]. Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais!



* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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