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sábado, 25 de agosto de 2012

CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS: Um reflexo das contradições do modelo capitalista de produção!

Foto: Rio contaminado.                                        Fonte: aspaymcantabria.com
 Valter Machado da Fonseca

O sistema capitalista, de um lado, conseguiu imprimir com grande eficiência, o avanço técnico-científico nas áreas de superprodução de bens de consumo, da indústria química e petroquímica, da automação, robótica, nuclear, armamentos, de engenharia genética, de eletro-eletrônicos, de alimentos, etc.; além de imprimir um novo ritmo à indústria da informática, das telecomunicações e dos transportes. Por outro lado, ele promoveu a marginalização de largas camadas da humanidade, o aparecimento de novas doenças, o ressurgimento de doenças medievais, principalmente nos países atrasados; a desnutrição, o acúmulo de todo o tipo de lixo, a destruição de grande parte da vegetação, a contaminação das águas e do solo, a substituição de biomas inteiros, como o Cerrado, por atividades agropecuárias.
         As conseqüências do impacto ambiental foram as mais drásticas possíveis. Já no início da Revolução Industrial, com a utilização das máquinas a vapor, iniciou-se um violento ataque à biomassa do planeta, com milhões de km² de florestas virgens sendo devoradas para a manutenção da indústria de base, principalmente a siderurgia.
         A degradação das florestas veio acompanhada da poluição das águas por produtos químicos e resíduos, advindos das indústrias. O desenvolvimento tecnológico trouxe novos tipos de poluição. Com a superprodução industrial, surgem outros tipos de poluição que afetam, além das águas superficiais e subterrâneas, também os solos, a atmosfera e os seres vivos, dentre eles o homem. Hoje convivemos com os perigos decorrentes da poluição atmosférica, do acúmulo de lixo doméstico e resíduos industriais, do excesso de lixo tóxico e nuclear, além dos problemas causados pela emissão de gases tóxicos para a atmosfera, como o efeito estufa, as chuvas ácidas e o buraco na camada de ozônio.
         A visibilidade real das catástrofes ecológicas, promovidas pelo capitalismo, desviou e descentralizou o eixo de intervenção prática de muitos militantes e ativistas políticos. Eles deixaram de atacar as raízes da problemática ambiental, para cuidar apenas das conseqüências provocadas pela "lógica" desse modo de produção. Com isso, amplos setores dos movimentos populares e sociais se engajaram, definitivamente, nos movimentos ambientalistas.
         A eclosão dos movimentos ecológicos e ambientalistas coincide exatamente com a 1ª conferência mundial sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo (1972). Vinte anos depois, a conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro - a Rio 92 - tentou refazer um balanço de degradação ambiental no planeta e, consequentemente, dos problemas sociais que afetam a maioria da população global. Tentou-se relacionar desenvolvimento técnico-científico, degradação ambiental e fome. Tal conceito ficou assim elaborado: é aquele que “atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46). Ele vem causando inúmeros debates e polêmicas nos dias de hoje.
         O conceito de desenvolvimento sustentável traz consigo toda a "lógica" do modo de produção capitalista, colocando, mais uma vez, o homem acima da natureza e não como integrante dela, carregando-se de uma visão puramente economicista.
         É exatamente dentro deste contexto das contradições oriundas do modelo de desenvolvimento capitalista que se situa a problemática da contaminação das águas.
A mídia comumente tenta repassar falsas concepções a respeito desta problemática como: "a água do planeta está ameaçada de extinção" ou, "a população que joga seu lixo nas ruas ou nos lagos, córregos e riachos é responsável pelas catástrofes ou inundações, etc.". Este procedimento, muito comum, da mídia é a simplificação do problema, trata-se de um método ilusório de focalizar o problema em simples casos isolados, tentando jogar o ônus da crise ambiental sobre os ombros da população, tentando julgar o comportamento dos indivíduos desconsiderando o modelo ilógico de desenvolvimento do país.
        Em primeiro lugar, a quantidade de água existente no planeta não está diminuindo ou aumentando, ela se mantém constante, pois é regulamentada pelo ciclo da água que determina sua movimentação em seus diversos estados (sólido, líquido e gasoso), em uma dinâmica perfeita que mantém constante a quantidade de água no planeta.

RESERVATÓRIOS DE ÁGUA DA TERRA

RESERVATÓRIO
% DO TOTAL
VOLUME EM
QUILÔMETROS CÚBICOS


Oceano
97,25%
1.370.000.000

Calotas polares/geleiras
2,05%
29.000.000

Água subterrânea
0,68%
9.500.000

Lagos
0,01%
125.000

Solos
0,005%
65.000

Atmosfera
0,001%
13.000

Rios
0,0001%
1.700

Biosfera
0,00004%
600

TOTAL
100%
1.408.700.000

 

       Em segundo lugar, o comportamento dos indivíduos, em um determinado país, está condicionando a aspectos que determinam o modelo de desenvolvimento deste país. A educação é um dos principais fatores a ser considerado para se determinar o grau de desenvolvimento, de qualidade de vida, de bem-estar de um povo. Nos países subdesenvolvidos como o Brasil, a educação é relegada ao segundo plano. Como se pode exigir de um povo totalmente excluído do processo educacional, qualquer compromisso com a preservação ambiental? É um comportamento hipócrita, irresponsável e inconseqüente jogar o ônus de uma crise econômica e política nas costas de uma população cada vez mais à margem do processo produtivo.
Este artigo se propõe apenas a dar uma leve pincelada na essência, na raiz da problemática ambiental e, consequentemente, no problema crônico da contaminação das águas. Pretende-se discutir a ação antrópica como agente de interferência no equilíbrio do ecossistema terrestre. Isto vai influir diretamente na qualidade das águas, ou seja, na diminuição da quantidade de água potável necessária para garantir, minimamente, a qualidade e a própria continuidade da vida no planeta, o que é diferente de afirmar que a quantidade de água existente no planeta está diminuindo.
         O problema da contaminação das águas está incluído no conjunto de problemas ambientais, decorrentes do modo de produção capitalista e, portanto, não pode ser analisado separadamente, através de uma visão fragmentada dos problemas ambientais. Ele faz parte de um processo complexo que inclui um amontoado de impactos ambientais sobre os biomas terrestres, decorrentes do modelo de desenvolvimento capitalista.
         CARLOS SCCOMAZZON descreve assim a situação da degradação ambiental:

[...] os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis. (SCOMAZZON, 2003)


A definição de Scomazzon aponta os elementos que caracterizam a situação das diferenças sociais e da degradação do modelo capitalista contemporâneo, dentro da "lógica" da globalização econômica. É esse conjunto de fatores políticos, econômicos e sociais que se deve observar para se ter um perfeito entendimento da real situação da degradação ambiental no globo terrestre e especificamente da problemática da contaminação das águas.
Desde o início de sua existência, o homem tem causado impactos sobre o ambiente. Mas, foi a partir do início do desenvolvimento da sociedade capitalista, que estes impactos se intensificaram, extraordinariamente, trazendo conseqüências drásticas para os ecossistemas terrestres, causando um desequilíbrio, sem precedentes, nas forças que mantém esses ecossistemas, colocando em risco a existência das espécies de seres vivos, e dentre elas o próprio homem.
A Revolução Industrial trouxe em seu bojo um ataque violento à biomassa do planeta, promovendo em seu início os primeiros grandes impactos ambientais sobre as forças de equilíbrio dos ecossistemas. A indústria petroquímica aliada à superprodução de bens de consumo trouxe um dos piores tipos de poluição, cujas conseqüências drásticas estão mais visíveis na modernidade. A superprodução de bens de consumo produz milhões de toneladas de lixo doméstico e resíduos industriais, que poluem não somente o ambiente terrestre, como também as águas, sejam elas superficiais ou subterrâneas.
         As técnicas avançadas da produção industrial aplicada à agricultura e mais recentemente o desenvolvimento da biotecnologia especialmente a biotecnologia de alimentos, tem produzido uma gigantesca quantidade de insumos agrícolas e agrotóxicos que causam a contaminação dos rios, lagos, solos e aqüíferos subterrâneos. Os produtos químicos aplicados à agricultura contaminam além das águas e dos solos, também os alimentos consumidos pela população trazendo prejuízos irreparáveis à saúde humana.
         A emissão de gases tóxicos para a atmosfera, proveniente das indústrias, da queima dos combustíveis fósseis utilizado nos automóveis, a emissão do cloro-fluor-carbono (CFC) etc., provocou a poluição atmosférica, o que deu origem ao aparecimento do buraco na camada de ozônio, interferindo diretamente na saúde humana e das diversas espécies animais.
          O fenômeno da urbanização decorrente do surgimento das cidades é um reflexo da reprodução do capital. O espaço urbano é produzido e divido seguindo as desigualdades sociais oriundas da sociedade capitalista caracterizada pela sua divisão em classes sociais, com interesses antagônicos e diametralmente opostos. Portanto a segregação sócio-espacial é uma característica do processo de urbanização produzido pelo modelo capitalista. As diferenças sociais gritantes também são produtos do modo de produção excludente da sociedade capitalista. Portanto, o desenvolvimento da sociedade capitalista não somente é responsável pela degradação ambiental, como também pela degradação política, econômica e social do ser humano.
         É neste contexto que ocorre a degradação ambiental, fruto da ação antrópica, onde o impacto atinge não somente a natureza, mas também o próprio homem como ser social que deveria estar em interação com a natureza e como parte integrante dela. Portanto, a problemática da contaminação das águas deve ser enfrentada, considerando o conjunto de fatores degradantes e que é fruto da ação do próprio homem sobre a natureza, no processo perverso de desenvolvimento da sociedade capitalista.
         Dentro desta lógica a problemática da educação, da produção do conhecimento científico, assume uma dimensão gigantesca. Qualquer nação que preze pela conservação dos recursos naturais, pela defesa da qualidade de vida do seu povo e pela própria continuidade da vida no planeta deve focar sua atenção sobre uma tarefa elementar: a construção de uma educação pública e de qualidade em todos os níveis. A educação ambiental que já virou termo da moda faz parte do processo educacional da população do país. Deve estar incluída dentro deste processo e não pode ser tratada separadamente.
         A gestão correta e eficiente dos recursos hídricos passa fundamentalmente pela solução dos grandes problemas que afetam a maioria da população, tendo como eixo a educação, o que leva fatalmente ao questionamento do modelo de desenvolvimento do país.
Referências Bibliográficas


-SCOMAZZON, C. Carta da Terra. Disponível em http.www.carthcharter.org/draft/charterpo.htm. Acesso em: 2 de maio 2003.

-COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso futuro comum. Rio de Janeiro, Ed. Fundação Getúlio Vargas. 1991.

-ROMANO FILHO, D. Gente Cuidando das Águas. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2002.

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