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terça-feira, 3 de julho de 2012

AS MURALHAS DE CONCRETO!

Foto: cerca                                                           Fonte: portugues.torange.biz

 Valter Machado da Fonseca
Por entre as muralhas escapam os gritos de pavor
São animais ensangüentados, assustados e maltratados
Os dias parecem parar, são intermináveis, infindáveis
Nos corredores escuros, malcheirosos, o som dos passos ritmados
As barras de ferro batido deixam escapar apenas os gemidos
Dos homens sem vaidade, embrutecidos pelo ódio da falta de dignidade

O tempo passa em conta-gotas, no tic-tac do tormento
São homens amarelos de pele encharcada no suor da opressão
Na rotina da masmorra só se ouve o lamento da frustração
No dia-a-dia do cativeiro são constantes as batidas secas
Das ferramentas frias da tortura e da enxada do coveiro

Nas noites frias de inverno, estão trancafiados
Das suas mentes obstinadas, imagens distorcidas das amadas
Com o passar dos anos, o tempo já não interessa
Trancam as mentes, confinam o pensamento, se adaptam ao sofrimento
Da paisagem distante, do outro lado do muro de concreto
Só restaram algumas imagens distorcidas pelo tormento

Insistem em resistir procuram se iludir
Os corpos presos, nas velhas camas de cimento, liberam o pensamento
Precisam, todo dia, banhados na pouca claridade, acalentar a liberdade
Pensam nos amigos, nos conhecidos, nas amadas lá de fora
Procuram, travestidos de ilusão, enganar a frustração
O pensamento sai do catre pra se juntar à multidão

O tempo passa, lentamente, a hora chega de mansinho
No dia-a-dia da cadeia, se entusiasmam, fazem planos com carinho
Esperam com paciência o dia de glória que se aproxima
Contam os meses, as semanas, os dias, os minutos
Os corações acelerados esperam deslumbrados
O grande dia que trará, consigo a liberdade

Finalmente, o momento tão esperado
Arrumam as coisas, fazem as malas, preparam o coração
Juntam os poemas, relembram dos que vão ficar
Tentam ser fortes, se erguem, prendem o fôlego que esconde o choro
Chegou o grande momento, de ir embora, atravessar o portão
Enquanto o corpo vergado, flácido caminha lentamente na multidão
O coração partido, sofrido, abatido, volta prá dentro da prisão!

2 comentários:

  1. a prisão existe la dentro e aqui de fora, pois o ser humano limitado é empurrado pelo sistema armando o jogo. Existente apenas na mente a liberdade nos faz voar nesse mundo enraizado.

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    Respostas
    1. Muito Bem Allita! Concordo contigo!
      A liberdade, assim como a prisão está dentro de cada um de nós! Depois precisamos sentar para filosofar.
      Um abraço;
      Prof. Valter.

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