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terça-feira, 3 de julho de 2012

A AGONIA DO VELHO CHICO!!!

Foto: Nascente do São Francisco   Fonte: Arquivo Valter M. da Fonseca (2010)

  
Valter Machado da Fonseca

Da Canastra, serra das Gerais, do ventre das rochas
Surge o filamento, tênue, simples, cristalino, puro
É água que brota do seio da terra...
Essa lágrima, singela, que se transforma em torrente
Irriga as terras tristes, sombrias e áridas
São águas correntes que trazem a semente prá fecundar o sertão

Aos poucos o fio se encorpa, torna-se robusto
Risca o chão, aprofunda o vale, constrói seu caminho
Em sua caminhada, recebe o auxílio de outros filamentos
Que se juntam no mesmo caminho, no mesmo destino
Só o som das suas águas, das cascatas acalenta o menino
Que cresce com ele, aprende com ele acalmar os tormentos

Desce ladeira, corta montanhas, segue rápido, ligeiro
Na sua jornada, na longa caminhada, distribui esperança
Oferece carinho, alimento ao velho barranqueiro
Que em seu louvor, inventa a dança, cria canções de jangadeiro
São ritmos alegres dos corpos que se banham
Nas águas profundas, que aquecem a pele, alimentam emoções

Com o caminho traçado, vai ao encontro dos desamparados
Ultrapassa fronteiras, segue audaz, levando nas águas
As canções, as danças, o suor da gente humilde, que busca a liberdade
No semi-árido, serve de estrada que leva embarcações
Unindo culturas, unificando, alegrias e dores
Dos povos sofridos que, em suas margens, expressam amores

De regiões distantes vêm os viajantes, cheios de ambição
Pensam que seu leito é o local perfeito para a exploração
Remexem seu vale, maculam suas águas, com o veneno da destruição
A água antes cristalina, agora manchada de sangue, chora de dor!
O som alegre das cascatas, agora são apenas ecos de pavor
São apenas gemidos, das chagas abertas pelo infrator

Hoje, caminha lento, triste, cansado, desolado
O filamento da canastra agora não é mais cristalino
Já não oferece o carinho, esperança, alimento, prazer!
O verde envolvente transformou-se em vermelho
No barranco, de cócoras, triste, está o velho barranqueiro
Da sua boca, só sai o lamento, da canção tênue e distante
Que anuncia a tormenta, a angústia e a morte de velho guerreiro!!!

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