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sábado, 21 de abril de 2012

21 de abril: a que distância nos encontramos da liberdade?

Foto: Condor, símbolo de liberdade                    Fonte: alexandrecabreira.com

Valter Machado da Fonseca*
Os ideais dos Inconfidentes, comemorados neste dia 21 de abril, traz à tona uma série de reflexões sobre a “liberdade”, arduamente perseguida pelas incursões de Tiradentes e seus companheiros, nos anos que precederam ao de 1789.  O slogan da bandeira de Minas Gerais “LIBERTAS QUAE SERA TAMEN” ou Liberdade ainda que tardia, vem reforçar a ideia da busca pela liberdade. Aliás, as palavras inscritas na bandeira mineira é uma alusão ao lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). As lutas emblemáticas e seculares de diferentes povos e que marcam os principais períodos da história da humanidade, sempre se esquivaram ou se esconderam atrás das justificativas da busca constante pela liberdade.
Aliás, em nome dela, inúmeros crimes, monstruosidades e barbaridades já foram cometidos em incontáveis acontecimentos que marcam o percurso histórico da história das mais diversificadas civilizações. O pior, é que os mais sangrentos ditadores se apoiaram nos preceitos da liberdade para justificar atos monstruosos, assassinatos bárbaros, até mesmo carnificinas às centenas e aos milhares. Hitler queria uma Alemanha livre. Mas, livre de que? Benito Mussolini queria uma Itália livre? Mas, o que era a liberdade para ele? Franco queria também uma Espanha liberta, assim com Salazar em Portugal também pregava a liberdade. Estes são personagens da história recente, sem mencionarmos os da história medieval e antiga. Então, podemos verificar que a palavra liberdade sempre fez parte do ideário de diversos períodos da nossa história, desde os tempos mais remotos aos mais modernos.
Voltando ao nosso “21 de abril”, observamos que o ideal revolucionário dos Inconfidentes era nobre. A Inconfidência Mineira talvez tenha sido um dos primeiros e mais significativos momentos da história da nossa luta contra a tirania e os desmandos do Império Português. Aí, é quase que inevitável que façamos uma comparação entre os nobres ideais da Inconfidência e os fatos que marcam a história do Brasil de hoje. Aí, perguntamos: Será que Joaquim José da Silva Xavier [o nosso Tiradentes] e sua companheirada estariam felizes e realizados se vivessem nos tempos de hoje? Será que era esta a liberdade que, implacavelmente, eles perseguiram? Será que os nossos Inconfidentes teriam levado a cabo sua batalha se tivessem o poder de prever os acontecimentos futuros, dos dias atuais?
Devemos aproveitar esse dia 21 de abril para pensarmos sobre a atual situação política de nosso gigantesco país. Há quanto tempo, o Congresso Nacional [CN] não faz outra coisa, senão discutir falcatruas e maracutaias. Será que alguém sabe responder, ao certo, por quantas Comissões Parlamentares de Inquérito [CPIs] a nossa nação passou, nestes últimos 20 anos? O tema CPI é tão recorrente que já virou moda. Já não causa estranheza a ninguém, já não deixa o nosso povo alarmado. E, em anos de eleições ele se torna mais recorrente ainda. Quantos problemas importantes o povo brasileiro já não gostaria que tivesse sido, pelo menos, debatido no CN. Não digo votado, mas, pelo menos debatido, discutido.
Assim, no dia 21 de abril, como no 7 de setembro eles voltam a realçar o termo “liberdade”. Querem que o povo esqueça as falcatruas, a corrupção, os atos ilícitos, os desvios de verbas dos congressistas de plantão, para idolatrar a liberdade, pela qual estão se lixando, assim que passam as festividades e simbologias cívicas. É muita hipocrisia para um país só, para um conjunto de governantes e parlamentares que, a todo o momento, cospem, jogam na lama e desonram de forma vergonhosa os ideais que constroem a memória histórica de nossa nação, a exemplo da Inconfidência Mineira. E o pior é que ainda se espantam quando percebem que os nossos três poderes perdem a total credibilidade diante da população de bem do país. Aí, vêm com o papo furado: “É preciso resgatar a credibilidade das instituições brasileiras” ou “É preciso reforçar o sentimento patriótico do povo”. Pura demagogia barata e escandalosamente hipócrita e mentirosa.
Por fim, o que vem a ser liberdade? Liberdade é um termo para o qual não existe significado conceitual. Muito menos, pode ter significado na boca de canalhas que desonram nosso território, que mancham de vergonha o nosso solo, nosso país, nossa nação e nossa gente. Liberdade é um estado de espírito que somente pode ser percebido e sentido por aqueles que verdadeiramente escrevem a história de um país, com a pena molhada no sangue que jorra dos corações realmente puros de homens e mulheres realmente de bem. E, como estado de espírito, ela nunca poderá ser saboreada por aqueles mancham nossa dignidade e pisoteiam covardemente nossas esperanças.                 


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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