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sexta-feira, 23 de março de 2012

Morre o Prof. Aziz Ab’Sáber, um dos maiores Geógrafos de todos os tempos!

Foto: Prof. Aziz Nacib Ab'Sáber.                    Fonte: www1.folha.uol.com.br

Valter Machado da Fonseca*
Faleceu na sexta feira (16/03/2012), aos 87 anos, na cidade de São Paulo, o professor Aziz Nacib Ab’Sáber, um dos maiores cientistas dos últimos tempos, em todo o mundo. Ele era professor emérito e livre docente da Universidade de São Paulo (USP) e Professor Honoris Causa pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Ganhador de inúmeros prêmios nacionais e internacionais, dentre eles um prêmio da UNESCO, o Prof. Aziz, se destacou, sobretudo, pelo riquíssimo legado científico que deixou para o conjunto da humanidade. Geógrafo de formação, Ab’Sáber não se destacou apenas pelos seus significativos e relevantes trabalhos no campo da ciência geográfica, mas, em diversos campos do conhecimento científico como Geomorfologia, Geologia e Fitogeografia.
Numa carreira de mais de 50 anos de pesquisas ininterruptas, ele percorreu o país em infindáveis trabalhos de campo, analisando aspectos da vegetação, relevo, biológicos, geomorfológicos, geográficos e hidrográficos. O Prof. Aziz era um exímio conhecedor das particularidades de todos os biomas brasileiros como o cerrado, o pantanal, a caatinga, a Floresta Amazônica, as matas de araucárias, os manguezais, os pampas e as pradarias. Conhecia, como pouquíssimos estudiosos, todos os detalhes e particularidades dos grandes domínios paisagísticos e morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros. Acompanhou de perto todos os principais debates em torno dos grandes problemas ambientais no Brasil e no exterior. Foi o grande arquiteto das principais cartas geográficas que determinam os limites e fronteiras dos principais biomas e ecossistemas de nosso país.
Dono de reconhecimento internacional, Aziz Ab’Sáber era defensor do princípio de que o conhecimento produzido pela ciência jamais deve ficar estancado ou estagnado nas prateleiras das bibliotecas das universidades ou nos bancos de dados dos centros de pesquisa. Ao contrário, ele defendia que o conhecimento científico deve ganhar as ruas, o domínio público, em síntese, deve ser colocado em benefício do conjunto da humanidade. Era um homem que colocava o seu conhecimento enquanto ferramenta a serviço da defesa da preservação dos recursos da natureza.
Aziz foi um dos fundadores da Associação Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entidade vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e da qual foi presidente por várias gestões. Atualmente era o presidente de honra da entidade. Poucos dias antes de seu falecimento, foi à sede da SBPC e entregou à entidade um CD contendo os dados de todas as suas pesquisas do período de 1946 até 2010. Fez um pedido especial à entidade, solicitando a divulgação e aplicação das pesquisas para o benefício comum da humanidade.
Mas não foi somente no terreno da ciência que o Prof. Aziz se destacou. Ele se destacou também no debate das grandes questões políticas e ambientais da sociedade brasileira. Ele não era apenas um cientista brasileiro, era, acima de tudo, um cidadão do mundo, um lutador em defesa de todas as questões políticas que envolviam justiça social, direitos dos trabalhadores e defesa da preservação dos recursos naturais. O Prof. Aziz se destacou, durante o último período de sua vida, como um lutador e ativista contra as injustiças embutidas na criação do Novo Código Florestal. Isto se pode verificar em um fragmento da carta que ele escreveu à imprensa quando da 1ª votação do referido código: “Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro, favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais” (AB’SÁBER, 2010, p.1).
Então, o Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber, muito além de um brilhantíssimo cientista foi um grande lutador em prol de uma sociedade mais fraterna, mais justa, mais solidária e menos desigual. Por tudo isso, dizemos: Em nome da humanidade, obrigado Prof. Aziz! Em nome da ciência, obrigado Prof. Ab’Sáber! Com certeza haveremos de ver um dia, germinar a semente que semeou durante toda sua vida! Haveremos de saborear um dia os saborosos frutos derivados desta mesma semente que, arduamente, você plantou durante toda sua magnífica e brilhante existência!


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando em meio ambiente pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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