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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Num reino não muito distante

Henrique IV: o Rei louco
Valter machado da Fonseca*
“[...] Um Rei mal coroado não queria o amor em seu reinado
Pois sabia não ia ser amado
” [Geraldo Azevedo]

Conta a lenda, que num reino não muito distante havia “um rei mal coroado” que não queria o amor em seu reinado. O rei, assim que tomou posse do trono resolveu mostrar sua verdadeira face. Era um rei que não se importava com os problemas de seu povo, agia, de fato, mais como um ditador do que como um monarca amado pelos seus súditos.
O tal reino era habitado por uma população de bem que depositara grandes esperanças em seu rei, até que ele resolveu mostrar quem de fato era. Conta a lenda que o tal rei era um homem cruel, que achava que sabia de tudo, que entendia de todos os assuntos de seu reino. Mas, na verdade sua prepotência era tamanha que ele, obcecado pelo poder que o próprio povo lhe concedera, resolveu governar em nome de suas verdades, ao invés dos desejos de seu povo. Obcecado pela cobiça, ele se cercou de pessoas incompetentes para os cargos para os quais ele as designara.
Conta a lenda que o rei, que nada entendia de educação, resolveu tomar medidas sem ao menos consultar os membros de seu reino [que entendiam do assunto], tomando para si os destinos da educação do seu povo, principalmente das crianças mais pobres do reino. De início, ele trocou todos os livros feitos para as crianças humildes e pobres, que tratavam das coisas que interessavam a elas, por livros feitos para as crianças ricas e abastadas filhas dos nobres de seu reinado. Ele obrigou a todos os professores das escolas de seu reino a usarem os livros dos nobres, não dando aos professores, sequer a chance de debaterem o assunto. Com esta atitude, ele pagou uma grande fortuna à nobreza dona da escola dos ricos, com o próprio dinheiro arrecadado com os impostos dos seus súditos. E as crianças humildes, pobres crianças!!! Tiveram que abandonar seus modos de estudar para acatar as ordens do rei: tinham que estudar nos livros da nobreza sem, sequer, o direito de questionar.
Conta a lenda que o rei mandou fazer uma festa para comemorar sua nova maneira de educar as crianças pobres. Conta a lenda que uma professora de uma escola pobre que havia conseguido excelentes resultados com seus alunos, utilizando os livros antigos, não quis ir à festa, pois, no fundo de seu coração discordava dos métodos utilizados por sua majestade. O rei, furioso por ver que nem todos caíam em seu canto de sereia, mandou expulsar de seu cargo a pobre professora. O pior de tudo, é que o conselho de “sábios” [os que faziam as leis do reinado] não disse uma palavra sequer sobre os desmandos do cruel monarca. Aceitaram toda aquela arbitrariedade de cabeça baixa, pois, afinal também estavam do lado de sua majestade, contra o povo e contra as crianças.
Caro leitor! Vejam vocês!!! Um rei que é capaz de agir desta forma contra seus súditos, contra as crianças humildes do reino, será capaz de qualquer coisa. Um rei que brinca com a educação para satisfazer suas próprias ambições e as ambições dos duques e barões donos das escolas ricas deve ser capaz de coisas realmente monstruosas. Um rei que fala de democracia, mas cuja prática se aproxima das piores ditaduras não serve para governar nem uma pequena província, muito menos um reinado habitado por gente de bem. Prezado leitor, fique atento!!! Esta lenda pode acontecer em sua cidade! Qualquer semelhança com os fatos contidos nesta fábula poderá não se tratar de mera coincidência, mas poderá ser a mais pura e cruel realidade. Por isso, meu caro leitor, fique atento e tome muito cuidado, pois, muito perto de você poderá haver um rei tão monstruoso e cruel como esse.            


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com



Um comentário:

  1. Olá Professor Valter.
    Muito interessante essa fábula.
    Nos leva a refletir sobre um tema bem pertinente a educação: o que ensinar, e como ensinar?
    Espero que sua mensagem possa atingir a mais pessoas, despertando consciência crítica nos leitores.
    Aproveito para parabenizar pelo blog.. vou segui-lo.
    Até o indiquei no meu.. da uma olhadinha lá:


    http://anne-oliveira.blogspot.com/

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